Ninguem defende a óbvia e eficiente desoneração tributária

16/09/2016 às 16:29.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:51

Nem mesmo os executivos da indústria automotiva defendem um repeteco do programa de desoneração da produção e de incentivo ao crédito que salvou o setor, e de resto toda a economia, de cair no buraco negro no auge da crise financeira internacional, em 2009.

Ontem, perguntei ao presidente para a América Latina da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), Stefan Ketter, se ele era favorável a uma reedição do programa, ou de medidas de cunho semelhante. Ele fez uma longa defesa da importância da cadeia automotiva, de sua capilaridade por toda a economia, e de seu peso na geração de riqueza. “É o grande motor do crescimento”, afirmou. Mas não foi enfático na defesa da desoneração. Pelo contrário, disse que “se o sistema tributário fosse avançado, não iria requerer medidas (pontuais de desoneração)”.

Sinceramente, não entendo a lógica de não se reeditar políticas que já mostraram sua eficiência no passado recente. A não ser a opção ideológica da atual equipe econômica em sua iniciativa de controle das contas públicas por meio de políticas recessivas. O resultado, já comprovado desde o início do ano passado, é que a arrecadação cai em velocidade muito superior ao do corte de gastos, fazendo o déficit e a dívida pública explodir.

Não entendo a lógica de não se reeditar políticas que já mostraramsua eficiência

Investimentos
Em 2009, tivemos uma conjugação positiva de investimentos do governo em infraestrutura com políticas de desoneração tributária de cadeias estruturadoras da economia e incentivo ao crédito. A receita era lógica. Blindar a economia brasileira contra a crise mundial por meio do consumo interno e de grandes obras.

Hoje, o governo faz o contrário. Cortou todas isenções, elevou impostos e reduziu os investimentos ao mínimo possível. O programa Crescer, de concessões e privatizações, anunciado com pompa pelo presidente Temer no início da semana, é tímido e só apresentará os primeiros reflexos positivos para a economia (não digo para o caixa do governo, com o pagamento de outorgas por concessões) a partir de 2018.

Infraestrutura é importante, mas consumo interno também. E a ousadia de promovê-los deve ser equivalente ao tamanho do desafio. Se enfrentamos atualmente a maior recessão da história econômica recente do país, precisaríamos de radicalidade no corte dos juros (na taxa básica e nos juros do varejo, utilizando para tal o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal), na desvalorização cambial, nos investimentos diretos em infraestrutura e na desoneração de cadeias estruturantes e no incentivo ao crédito. Os setores da construção civil e pesada e automotivo respondem muito rapidamente e disseminam seus bons fluidos na economia quando devidamente incentivados.

Tributação
Concordo com Ketter que o país precisa de um novo modelo de tributação, mais avançado, e com regras mais estáveis. E é claro que medidas anticíclicas não podem e não devem se perpetuar indefinidamente. Mas elas existem como mecanismo para estancar a crise. Para forçar a inversão da curva de queda da economia.

O contrário é insistir no ajuste fiscal no pior momento da recessão. Isso significa contribuir para a desaceleração da economia e para o mergulho na crise. A Europa precisou de seis anos de recessão para descobrir esse erro fundamental. Será que também nós precisaremos de um sofrimento tão prolongado?

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