Nunca houve dúvidas de que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff se desenvolveria sob clima tenso e instável. Confrontos ásperos são característicos das disputas pelo poder, especialmente em grupos sociais heterogêneos e numerosos como os que existem no Brasil. Mas a radicalização dos discursos a favor e contra o governo atingiu nível além do aceitável. Ela nos colocou no limite do respeito à divergência e à pluralidade, elementos saudáveis da democracia.
O maior símbolo da discórdia é a parede erguida na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para separar os cidadãos durante a votação do impeachment na Câmara dos Deputados. Já apelidada de “muro da vergonha”, a estrutura revela a carga de hostilidade criada por esse embate. Chegamos a um ponto de tamanha polarização, que tornou-se impossível a convivência absolutamente pacífica de pessoas com pensamentos divergentes.
Assim como nas ruas da capital federal, esse antagonismo é manifestado em todas as cidades do país e potencializado nas redes sociais e em aplicativos como WhatsApp. Discussões acirradas sobre o cenário político estão colocando amigos e familiares em lados opostos, justamente quando o Brasil mais precisa de união.
Os principais responsáveis por essa lamentável e perigosa situação são os próprios protagonistas da história. Líderes políticos que expelem sentimentos ruins e negativos sobre adversários, ou que manipulam os instrumentos da democracia para conquistar seus objetivos, estimulam o comportamento impulsivo dos indivíduos.
Ao insistir na ideia de que o impeachment é golpe, por exemplo, o PT comete mais um crime contra o Brasil e joga mais lenha na fogueira ideológica. Essa é uma estratégia tão nociva aos interesses da nação quanto tramar um engenhoso esquema de corrupção para financiar projetos de poder. Em vez de se esconder em teorias conspiratórias, o partido do governo deveria assumir seus erros, virar a página e tentar resgatar seus antigos conceitos de moralidade. Essa seria uma atitude verdadeiramente republicana, pois daria ao país a chance de reconstruir seus caminhos imediatamente.
O vice-presidente Michel Temer e seus aliados também colaboram para a formação desse ambiente de rivalidade extrema. Em situações como o vazamento de seu suposto discurso de posse, Temer demonstra profundo desrespeito às instituições brasileiras. O ato denuncia um comportamento inaceitável, incompatível com o que se espera de alguém realmente preparado para assumir o comando do Brasil.
O fato é que, independentemente do lado que sair vitorioso na batalha em que se transformou o impeachment, nossos dramas não estarão solucionados. Ainda há um longo caminho a ser percorrido até alcançarmos alguma estabilidade política e econômica. Em primeiro lugar, é preciso encontrar alternativas para o esgotamento da gestão petista e para a fragilidade da presidente.
Na etapa que será cumprida amanhã na Câmara dos Deputados, meu voto será pelo afastamento de Dilma. Não tenho dúvidas de que ela cometeu crime de responsabilidade em diversas operações financeiras. Voto confiante de que resgataremos a governabilidade.
Está na hora de mudar, ainda que persistam dúvidas em relação ao futuro. Para o bem do país, é importante que essa mudança seja fruto da unidade e da conscientização de cada brasileiro sobre sua importância nesse processo. Radicalmente divididos, estamos mais próximos da ruína do que da vitória.