Muita gente diz que, nas ruas e estradas brasileiras, há dois tipos de condutores sobre duas rodas: motoqueiros e motociclistas. Não vai aí qualquer tipo de preconceito ou distinção por tipo de moto, cilindrada, classe social, mas uma divisão por postura ao guidão. Algo que talvez não seja ensinado nas escolas para a habilitação, mas que se desenvolve de acordo com a coragem, a necessidade e a ética pessoal de cada um.
Os primeiros identificam, nos corredores entre as faixas, uma via expressa em que têm prioridade, seja qual for o espaço disponível. Não se importam em encostar nos retrovisores dos carros e parecem ser proibidos por alguma força superior de colocar os pés no chão e esperar quando o trânsito à frente para. Muitas vezes não sinalizam as manobras, transformam a condução num balé perigoso (aposto que tem muita gente que se acha o novo Valentino Rossi, se esquecendo que o lugar de acelerar com segurança é a pista) e, não por acaso, costumam se envolver com maior frequência em acidentes sérios, quando não fatais. Chega a ser impressionante ver alguns tentando falar ao celular como se manter as duas mãos ao guidão já não desse trabalho suficiente.
Já o segundo grupo também procura se valer da maior agilidade do veículo, mas não conduz como se o mundo fosse acabar em cinco minutos. São previsíveis, mais pacientes e precisos – e aí, aliás, vai um parêntese sobre como aumentou o número de mulheres sobre duas rodas e como elas, diferentemente do senso comum machista, costumam ser bem mais seguras e capazes de seguir as regras.
Aos “motoqueiros” falta educação, em todos os sentidos – precisariam ser melhor orientados mas também agir de forma mais adequada ao fluxo do trânsito. Lembrar que naturalmente, sem precisar de malabarismos, já são mais ágeis e se deslocam mais rápido que o restante dos veículos. E que, tanto quanto pedestres ou ciclistas, estão no elo fraco da corrente, serão sempre eles a levar a pior num choque com um carro, caminhão ou ônibus, com ou sem razão.
Na semana passada a Comissão de Viação e Transporte da Câmara dos Deputados deu parecer positivo a projeto de lei que cria a habilitação para motos por categoria ou cilindrada, como já ocorre em muitos países. Já é uma iniciativa válida, mas fico pensando se não seria possível criar alguma forma de disciplinar os comportamentos inadequados ao guidão, já que, volto a lembrar, não se trata de questão do tamanho da moto. Punição mais rigorosa também é um caminho – não custa lembrar que, quando surgiram os primeiros radares fixos, eles não detectavam os motociclistas (ou motoqueiros) que transitavam entre as faixas, e a turma aproveitava para abusar. Mexer no bolso ainda é, feliz ou infelizmente, a melhor forma de mudar comportamentos na marra. Para que tenhamos apenas motociclistas.