O risco do discurso messiânico na economia

Publicado em 01/07/2016 às 14:20.Atualizado em 16/11/2021 às 04:07.

A economia brasileira é um carro sem freio descendo a ladeira rumo ao despenhadeiro. E o motorista é um messiânico que acredita que uma força mística irá amparar a queda.

O discurso feito ontem pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, teve esse tom assustador. Ele voltou a repetir que a saída para a crise é solucionar o problema fiscal e, com isso, recuperar a confiança dos empresários e investidores. Só não disse como.

Segundo o ministro, com o ajuste das contas públicas os empresários se sentirão seguros para voltar a investir e o país retornará naturalmente ao crescimento. A estabilidade cambial contribuiria para o clima de otimismo. E, controlada a inflação, o caminho estaria aberto para uma queda estruturada dos juros.

Ok, faria algum sentido se estivéssemos no rumo para solucionar o problema fiscal. Só que não estamos. O último relatório mensal das contas públicas divulgado pelo Tesouro Nacional, e analisado na coluna na última terça-feira (pode ser lida no portal do Hoje em Dia), mostrou que o déficit do governo central atingiu recordes históricos em maio e no acumulado dos primeiros cinco meses do ano.

Essa mesma equipe econômica aumentou a previsão de déficit primário para este ano para incríveis R$ 170 bilhões, e o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, informou na quarta-feira que não via possibilidade de o déficit para 2017 ser inferior a R$ 100 bilhões.

Ou seja, o raciocínio de Meirelles traz o pecado original de ser construído sobre um ajuste fiscal que não existe nem existirá no curto e médio prazos. E, o pior, com uma tendência de que os problemas se agravem.

O aperto tributário tem efeito recessivo, disso até Meirelles sabe

Das as medidas propostas até o momento para reversão do déficit, todas têm caráter recessivo. Basicamente, cortou-se fortemente os investimentos, que são a parte do orçamento na qual o governo pode mexer com mais facilidade. Teremos, ainda, a recriação da CPMF e a Fazenda faz gestão para o fim de todas as desonerações.

O aperto tributário tem efeito recessivo, disso até Meirelles sabe. Ele provoca desaceleração econômica, queda na arrecadação, aumento do déficit e faz explodir a dívida pública, que é o que estamos vendo desde o início do ano passado, quando Levy deu início ao reinado dos monetaristas na condução da economia.

Se houvesse alguma sinalização de incentivo à produção, ao consumo ou às cadeias estruturantes poderíamos pensar na possibilidade de sucesso de uma política econômica híbrida, misto de rigor fiscal e sensibilidade desenvolvimentista. Mas, não. Ninguém fala de mecanismo de controle cambial que equilibre a moeda em patamar competitivo para exportadores e proteja a indústria nacional, ou do retorno do ‘Reintegra’, o mecanismo que retira impostos das exportações. Também não falam de políticas de redução dos juros na ponta do consumo e de crédito para investimento. Não existe nada estruturado no campo da infraestrutura, além de declarações de simpatia vazia ao tema.

Portanto, preparem-se porque tudo aponta para uma deterioração acelerada dos principais indicadores econômicos (talvez, a inflação seja o único que não). E, em breve, tentarão tirar coelhos da cartola para mascarar o desastre. Estes, com certeza, serão as privatizações já aventadas por Michel Temer. Se for assim, perderemos os anéis e os dedos.

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