O transe de Samuel Nunes

09/08/2017 às 00:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:59

Quem trabalha em rádio do interior não tem a mesma sorte que as rádios das capitais tem, pois, pela manhã, no Mineirão, vão apenas os técnicos para montar os equipamentos de transmissão. Os narradores e repórteres esportivos chegam e encontram tudo certo e pronto para a transmissão. Ah, nós, do interior, que viajamos em número reduzido para fazer o jogo, resta a missão de bater o escanteio e correr para cabecear a bola em direção ao gol, ou seja, somos narradores e técnicos de eletrônica. Repórteres, comentaristas e carregadores de maletas de transmissão e assim por diante.

Pois bem, lá estávamos nós montando os equipamentos, e como a distância entre as cabines do Mineirão e o gramado aproxima-se dos 180 metros, utilizamos “walk-talks” para nos comunicarmos à distância. Para quem não sabe, são aqueles radinhos que servem para se comunicar em determinada frequência a longa distância, muito utilizado por seguranças em grandes eventos.

Quando chegou a hora de descer para o estádio, nosso repórter Samuel Nunes mal se continha para ir logo pisar o gramado do gigante da Pampulha, desta vez na companhia dos grandes astros dos times da capital, bem como estar ali lado a lado com aqueles que durante toda a sua infância permearam o imaginário do nosso querido Samuel através das ondas do rádio.

Estádio lotado, 15 minutos para começar a partida e eu, depois de fazer a abertura chamo o repórter em campo.

Um silêncio mórbido nas ondas do rádio.

Só ouvia o barulho ensurdecedor das duas torcidas, nada mais.

- E como vem escalada a Seleção Azul, “Profeta”? Nada! Completamente emudecido.

Tentamos falar com Samuel pelo celular e pelos “walk-talks” que também não respondiam. Nos preocupamos, toda a equipe, com o desaparecimento do repórter em campo.

Quando o jogo já havia começado e nosso suporte técnico desceu em campo para ver o que tinha acontecido, a surpresa foi interessante, mas foi grata.

Completamente alheio à partida e ao microfone, que nem mesmo ele sabia onde tinha posto, nosso repórter Samuel Nunes olhava, boquiaberto para Roberto Abras falando aos ouvintes da Rádio Itatiaia. E também para o repórter Álvaro Damião, que fazia a cobertura esportiva do Cruzeiro naquela ocasião.

Ele está perdoado. Nós entendemos! Mas a partir dali, tomamos todo o cuidado possível para não “batizar” nossos repórteres esportivos em eventos dessa envergadura, pois senão iremos correr o risco de sermos surpreendidos com diversos transes daqueles que, se curvam, pedem a benção, para esta paixão interminável que move os corações de ricos e pobres em todo mundo: O bom e velho Futebol!

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