SÃO PAULO - "Com esse ônibus vigiando a gente dia e noite o pouco espaço que tínhamos já não existe mais. Vamos ser jogados para escanteio. Nossa privacidade fica onde?".
É dessa maneira que a moradora de rua Marcela Santili definiu a operação da Prefeitura de São Paulo iniciada nesta quinta-feira (10), que colocou um ônibus de monitoramento 24 horas na praça da Sé, no centro de São Paulo.
Na quarta-feira (9) ela foi convidada a se retirar do marco zero de São Paulo. Como não tinha para onde ir, acabou voltando para a Sé nesta manhã. "Pode vigiar. Daqui ninguém vai sair", disse Santili, que integra também um movimento de moradores de rua.
A ideia de monitorar o dia inteiro a Sé com o ônibus pretende coibir a ação de traficantes, usuários de droga e a chegada de novos moradores de rua na região.
A central de monitoramento da GCM (Guarda Civil Metropolitana), batizada de 'big brother' pelo próprio secretário de Segurança Urbana, Roberto Porto, integra uma ação da prefeitura que pretende revitalizar o marco zero de São Paulo.
"A ideia é devolver a praça da Sé para a população e tornar este espaço o mais seguro da cidade. Sem dúvida com esse "big brother" os moradores de rua que vivem aqui vão acabar indo embora", disse o secretário. Segundo ele, a criminalidade no local é alta. Ao menos 50 guardas também fazem o patrulhamento nos arredores da Sé para garantir a segurança.
Além do ônibus, operado por três guardas-civis, serão instaladas, até o fim do mês, nove câmeras. Elas ficarão em diversos pontos ao redor da praça da Sé e serão integradas com a uma unidade de monitoramento que ficará no meio da praça.
Outros cinco espaços públicos devem receber unidades móveis. "Até o final do mês, a Luz, a praça da República, a Saúde e a avenida Teotônio Vilela, também terão um ônibus como o da Sé. Lá também serão instaladas câmeras e o efetivo de guardas-civis será reforçado", disse Porto.
Questionada sobre qual será o destino das pessoas que utilizam a praça da Sé como moradia, a secretária de Assistência e Desenvolvimento Social, Luciana Temer, disse que a prefeitura realiza um estudo criterioso a respeito.
"Essa situação precisa ser encarada e é o que estamos fazendo. Não podemos abrir mão de discutir esse tema. Não negamos que hajam problemas de acolhimento na cidade, só que agora estamos fazendo um esforço para melhorar este serviço", disse.
O investimento, feito com verba do governo federal pelo programa "Crack, é possível vencer", é de R$10 milhões. Cada ônibus de monitoramento com as câmeras e os equipamentos para os guardas-civis metropolitanos custa R$ 2 milhões.