A semana começou com uma grande operação da Polícia Federal contra doleiros que aproveitaram falhas no sistema financeiro para lavar dinheiro – algo como R$ 10 bilhões, pelos cálculos preliminares da PF. Só na segunda-feira, foram presas 24 pessoas, em 17 cidades, nenhuma delas em Minas.
Na madrugada de sábado passado, conforme se revelou ontem, já havia sido presa no aeroporto de Guarulhos uma suspeita que tentava embarcar para a Itália com 200 mil euros escondidos, parte dos quais dentro de sua calcinha.
Dois dias depois, quando começou de fato a Operação Lava Jato para a prisão dos suspeitos que vinham sendo investigados há vários meses, foi preso novamente um homem que, em dezembro passado, já havia sido detido no aeroporto de Brasília com US$ 289 mil e R$ 13,9 mil escondidos em suas meias.
O processo corre em segredo de justiça, mas alguns nomes, como os da mulher da calcinha e do homem do meião, vazaram seletivamente à imprensa. Outro desses nomes, Enivaldo Quadrado, é um dos condenados no processo do mensalão do PT. Ele teve a pena convertida em prestação de serviços pelo STF, que ainda não estava sendo cumprida, porque faltava a Justiça indicar onde o ex-sócio da corretora Bônus Banval deveria trabalhar em benefício da comunidade. Enquanto isso, pelo que se infere da última prisão, ele vinha trabalhando para uma das quatro quadrilhas investigadas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
A mulher dos 200 mil euros, Nelma Kodama, já havia sido condenada, em agosto de 2011, pela Justiça Federal, em consequência de outra operação da Polícia Federal – a Dolce Vita. A condenação a três anos e meio de reclusão, por lavagem de dinheiro, foi depois substituída por doação de 150 salários mínimos a entidade assistencial e por prestação de serviço à comunidade.
Nelma foi concunhada do ex-juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, um dos investigados durante a Operação Anaconda, deflagrada em outubro de 2003 para combater a venda de sentenças judiciais. Por causa da Operação Dolce Vita, o ex-juiz foi condenado à perda de seus bens e a seis anos e seis meses de prisão por lavagem de dinheiro, mas ele está recorrendo em liberdade.
Como se vê, há algumas consequências, no Judiciário, dessas operações da Polícia Federal, embora insuficientes para desestimular os crimes de colarinho branco. Em razão, sobretudo, do andamento lento dos processos na Justiça e das numerosas possibilidades de recursos à disposição de condenados com dinheiro para pagar bons advogados.
Haverá avanço, quando a presidente Dilma Rousseff assinar, nos próximos dias, o decreto que regulamenta a Lei Anticorrupção. Ela pune empresas por prática de atos contra a administração pública nacional ou estrangeira. O mais difícil, a aprovação pelo Congresso Nacional, já ocorreu.