Mauro Condé*
“Não poucas vezes esbarramos com nosso destino pelos caminhos que escolhemos para fugir dele” Jean de La Fontaine.
Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes livros da literatura portenha.
Eles me levaram para 1992, em Montevidéu, Uruguai, onde fui recebido por Mario Benedetti, a quem fui logo pedindo:
Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.
-Nunca deixe de vivenciar o seu dia-a-dia. Afinal toda pressa, no fundo, apenas nega a felicidade do momento presente. Viva intensamente o aqui e o agora.
Benedetti foi um premiado escritor e autor de “A Borra Do Café”, livraço que acabei de reler depois de uma lacuna de anos.
Sua marca registrada era demonstrar como os amores intensos se eternizam e moldam nossa vida presente, sem nos impedir de levá-la adiante.
Borra Do Café mescla memória e invenção e as sobrepõe de uma forma muito divertida e inspiradora.
Narra as aventuras da infância do protagonista e descreve com leveza e poesia sua transição para a fase da adolescência e depois para a fase adulta.
O que mais prende nesse livro é a relação do personagem com o destino, sempre às 3h10 da tarde, horário exato em que todos os acontecimentos decisivos de sua vida ocorrem.
Desde criança, seu passatempo predileto e involuntário, era desenhar mostradores de relógios com algarismos romanos, sempre marcando o mesmo horário às 3h10.
Curioso foi saber como, às 3h10 depois de um passeio com amigos pelo parque, eles esbarraram com o cadáver de um mendigo.
Como anos depois, sua mãe morreu, exatamente às 3h10 da tarde.
E mais ainda, como sempre às 3h10 da tarde, em dias e locais aleatórios, durante anos ele recebia a visita inesperada de uma jovem apaixonante chamada Rita, que aparecia e desaparecia do nada e sem aviso.
Certo dia, antes de tentar a sorte em um cassino, após beber um café à turca, ele teve seu destino espionado por um garçom, que do nada começou a ler a borra do café que ele havia deixado na xícara.
Espantou-se ao ouvir que o estranho tinha visto uma figura de um relógio marcando 3h10.
E ainda no mesmo dia, exatamente às 3h10 da tarde, precisando de dinheiro, resolveu tentar a sorte na mesa de jogo, mas antes de lançar os dados, percebeu a chegada de um desconhecido com terno de grife arruinado, o qual sussurrou em seu ouvido “jogue no 3 e no 10”.
*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco