Heloísa

24/10/2020 às 07:48.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:52

Aconteceu uma coisa curiosa comigo no último final de semana. Viajei a Cuiabá e quando me dirigi à locadora de veículos, logo em frente ao aeroporto, havia uma mulher com uma criança sendo atendida. Vi que estava bem aflita. Era 1h da madrugada em Cuiabá, ou seja, 2h da madrugada no nosso horário. Acabei entreouvindo que ela tinha uma reserva, mas não tinha nenhum cartão de credito com ela, só de debito, e que o valor da caução só poderia ser feito no crédito. Ela estava claramente abatida, ouvi alguma coisa sobre pai doente, sobre a outra filha que não tinha conseguido embarcar com ela... (15 anos de sala de aula me garantiram um bom ouvido para conversas ao meu redor... rsrs)

Ela saiu da loja, sem conseguir o carro, e estava em pé na porta, com filha olhando um pouco assustada para ela, enquanto digitava no telefone com aquele aspecto de quem desistiu e não sabe mais o que fazer.

Peguei meu carro, coloquei minhas coisas e, manobrando para sair, fiquei olhando para a menininha, do lado da mãe...

Respirei fundo, estacionei o carro de volta, pedi desculpas e me apresentei, perguntando se poderia deixá-la em algum lugar... ela disse que tinha de ir para o hotel, mas não sabia como. Aceitou minha carona, coloquei as coisas no carro.

Fiquei pensando em dizer que ela não deveria aceitar outras caronas como essa, que isso poderia ser perigoso... o mundo é um lugar triste quando a gente oferece ajuda e pensa que a pessoa não deveria se sentir segura em aceitar...

Puxei conversa com a menina de seis anos, Heloísa. Entendi que elas estavam vindo de Guarulhos, que a irmã mais velha não tinha conseguido embarcar por conta de um problema com a passagem e que iria passar a noite no aeroporto, "sem dormir", para vir só no dia seguinte se juntar a elas. Entendi também que elas estavam vindo visitar o avô doente, em uma cidade a 300km de distância. Que a mãe não fazia a menor ideia de como iria fazer para chegar lá, já que o pai estava em SP e o avô doente... a mãe me disse apenas que as coisas são assim: quando começam a dar errado, tudo parece dar errado.

Já estava perto do hotel, mas fiz meia volta, fui com elas à agência e aluguei o carro no meu nome com a mãe como segunda condutora. Ela pagou o aluguel no débito, mas o tal bloqueio foi feito no meu cartão de crédito. 

Trocamos telefone para caso de algum problema na locação, troquei a bagagem delas de carro e me despedi dizendo apenas que esperava que as coisas agora começassem a dar certo, que resolver o carro tinha sido a primeira delas.

Fiquei um pouco preocupado de deixar um carro locado no meu nome com outra pessoa. Pensei que se ela for multada vou ter de ligar para transferir os pontos... mas fui embora com a imagem da filha, que estava menos abalada e iria conseguir dormir do lado da mãe que já tinha voltado a ter um plano para lidar com os problemas do dia seguinte.

No dia seguinte, a mãe mandou um WhatsApp agradecendo. O pai acabou me ligando para dizer que era grato e tinha certeza de que Deus me abençoará. Ele sempre nos abençoa. 

Estou feliz de ter ajudado e pensativo sobre o porquê de ser tão difícil ajudar os outros nesses dias de hoje.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por