Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

Da interrupção um caminho novo

Publicado em 02/01/2023 às 06:00.

Fui eleito deputado estadual em 2018 na primeira eleição que disputei. Esse mandato chega ao fim em 31 de janeiro, mas com o início do recesso legislativo na semana passada podemos dizer que o trabalho já está concluído.

Parte dos votos que me levaram à Assembleia foi fruto de uma vida inteira construindo relações positivas, inspirando confiança e deixando memórias de dedicação, retidão e competência. O apoio intenso de ex-professores e colegas de colégio com os quais eu não conversava há mais de uma década me emocionou particularmente. Outra parte dos votos foi fruto de uma onda que queria renovação, de pessoas que nem me conheciam, mas queriam eleger alguém que nunca havia sido político e prometia que faria as coisas de modo diferente. Sem os votos dessa onda, minha eleição não teria acontecido.

Nunca me questionei se a onda de renovação se repetiria e se me levaria de volta à Assembleia ou para Brasília. Sempre considerei que ao invés de buscar o que poderia me dar uma futura carreira política, eu precisava representar bem quem me levou ao cargo que passei a ocupar. Isso significou fazer do primeiro ao último dia um trabalho técnico, ético, dedicado e, acima de tudo, diferente das velhas práticas políticas. E as diferenças foram muitas.

Abrir mão dos privilégios pessoais aos quais eu teria direito pelo cargo, em um total de R$260 mil, foi a primeira delas e a mais simbólica.

Trabalhar com uma equipe enxuta, recrutada por processo seletivo com empresa de RH e sem politicagem, foi talvez a mais importante. Estar cercado por um time produtivo e competente me permitiu produzir muito gastando pouco e me tornei o deputado mais econômico da história do parlamento mineiro.

Atuar com coragem, barrando projetos ruins, dando a cara a tapa nas votações mais difíceis, rompendo com o corporativismo e combatendo privilégios, foi a que mais definiu meu dia-a-dia e que mais causou desconforto nos meus pares.

Distribuir as emendas parlamentares por critérios técnicos definidos em editais públicos de projetos, abertos a qualquer interessado, sem exigir nenhum acordo político em troca, foi certamente a mais inovadora e com potencial para criar as mudanças mais profundas. As emendas são, historicamente, o meio pelo qual os mesmos políticos de sempre se perpetuam no poder, trocando recursos públicos por compromissos de apoio eleitoral. As necessidades do povo ficam em segundo plano nesses acordos e era com isso que eu queria romper.

As eleições de 2020 mostraram que a onda de renovação havia passado, mas isso não diminuiu minha disposição de honrar até o final o desejo de mudança e a confiança de quem me elegeu em 2018, ainda que isso me custasse uma queda em 2022.

E em 2022 a queda veio, com a derrota nas eleições para deputado federal em uma eleição profundamente polarizada na qual eu me recusei a fechar os olhos (e a boca) para os erros dos dois extremos.

Do lado de dentro, conheci o que há de pior na política e que faz tantos dizerem que o Brasil não tem a menor chance de dar certo. Conheci, também, muita gente boa, que dá esperança que as coisas possam mudar. Acima de tudo, conheci minha vocação na possibilidade de, com meu trabalho, melhorar a vida de tantas pessoas. Foi uma jornada intensa, da qual amei cada segundo.

E é por isso que, tendo conduzido meu mandato sob as palavras de Guimarães Rosa, de que “o que a vida quer da gente é coragem”, me despeço desse mesmo mandato, e desta coluna, com as palavras de outro grande mineiro, Fernando Sabino, de que é necessário fazer “da interrupção um caminho novo; da queda, um passo de dança; do medo, uma escada; do sono, uma ponte; da procura, um encontro”.

Agradeço ao Hoje em Dia pelo espaço que abriu para mim e a cada mineiro que confiou em mim para representá-los nos últimos quatro anos. Agradeço ainda mais aos que continuaram engajados na mudança e tentaram me levar para Brasília para dar sequência ao trabalho. Seguirei trabalhando para fazer da queda nas urnas em 2022 um passo de dança e da interrupção por ela provocada, um caminho novo que nos permita levar para ainda mais pessoas e lugares a mudança que começamos a construir em busca de uma política e de um Brasil melhores.

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