Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

Mimimilhares de mortos e um choro que não tem fim

05/03/2021 às 15:34.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:20

Semana passada, o Brasil bateu recordes de mortos pela COVID-19. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram 1641 na terça-feira, 1910 na quarta. Na quinta, 1699, e um pronunciamento do presidente da República sobre a assustadora escalada da doença. Em São Simão (GO), ele disse: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.

É impressionante a falta de empatia, de tato, de um mínimo de decoro. Mais que isso. É impressionante a falta de ação e de liderança. No mundo inteiro, líderes têm se esforçado para combater fake news, conscientizar a população e, principalmente, aproveitar cada oportunidade de adquirir vacinas, que são a única solução concreta. Bolsonaro cria fake news, provoca aglomerações, instiga a população a descumprir protocolos sanitários e recusou três propostas de aquisição da CoronaVac, de 60 milhões de doses. A última das recusas foi feita dizendo que não compraria a “vacina chinesa do Dória”. Além disso, uma proposta da Pfizer, de 70 milhões de doses, também foi recusada, ainda em 2020.

Foram 130 milhões de doses recusadas para, depois, mandar adesivar avião que iria buscar na Índia 2 milhões de doses, fazendo estardalhaço publicitário. O avião sequer chegou a decolar rumo à Ásia, pois as doses não estavam disponíveis. 

Mesmo as doses de vacinas que foram finalmente adquiridas, quando pressionado pelo risco de imagem de seu rival político João Dória (PSDB-SP) começar a vacinação em seu estado antes do restante do Brasil, não ficaram livres de problemas. O Ministério da Saúde, comandado pelo “especialista em logística” General Pazzuelo, enviou para o Amapá as doses de vacina que seriam destinadas ao Amazonas. Confundiu-se com as siglas dos estados (AP e AM, respectivamente)...

Foram 130 milhões de doses recusadas, e agora o governo parece constatar que perdeu a oportunidade quando ela existia e que será muito mais difícil adquirir as quantidades necessárias de vacinas para todo o povo brasileiro. Mas o faz, novamente, sem uma gota de empatia, sem um pingo de humildade. Sobre esse assunto, Bolsonaro se manifestou em Uberlândia, na última quinta-feira, da seguinte forma: “Tem idiota nas redes sociais, na imprensa, ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe! Não tem para vender no mundo!”.

Desacreditado como liderança capaz de conduzir o Brasil na vacinação e na luta contra a pandemia, Bolsonaro viu o Congresso aprovar uma lei na terça-feira que permitiria a estados e municípios adquirirem vacinas por conta própria. Bolsonaro vetou esse artigo. Pelo visto, o Brasil chorará por mais muito tempo.

  

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