A onda roxa é uma medida extrema que atinge a liberdade dos cidadãos e foi evitada pelo governo. Não poderia ser diferente. A restrição impõe dificuldades particularmente duras para trabalhadores e empreendedores, especialmente os pequenos, que observam aumento no risco de perda de renda, falência e desemprego.
Antes da medida extrema, o governo ampliou a capacidade de atendimento de saúde, dobrou o número de leitos de UTI e está conduzindo a maior operação de vacinação da história de Minas. Não foi o bastante. Novas cepas do coronavírus, o descumprimento dos protocolos sanitários e a demora no fornecimento de vacinas levaram o sistema de saúde à beira do colapso. Só restaram as opções de ver Minas virar Manaus e dizer que o governo fez sua parte e que a culpa é dos outros ou adotar temporariamente medidas mais restritivas. Em qualquer cenário, os justos pagarão pelos pecadores, pois quem quebra ou morre de Covid não é quem vai a festas ou circula sem máscara.
O governo tem apresentado medidas de auxílio. Sabemos que não é suficiente para eliminar todo o sofrimento, mas é o que está ao alcance de um Estado quebrado. Ainda assim, parte da opinião pública insiste em condenar o governador e exigir o retorno imediato das atividades. Outra parte insiste que tudo se resolve com o “tratamento precoce”.
É compreensível. Muitas dessas pessoas estão no grupo que sofrerá mais fortemente o impacto das novas restrições e terão dificuldade de colocar comida na mesa. Outros estão defendendo sua ideologia e convicções morais. São opiniões válidas que partem de pontos de vista de quem sofre. Todavia, como disse James R. Schlesinger, ex-secretário de Defesa dos EUA, “todos têm direito à própria opinião, mas não aos seus próprios fatos”.
Aos comerciantes e trabalhadores, os fatos são a iminência do colapso do sistema de saúde, a desobediência reiterada aos protocolos sanitários por parte da população, a inexistência de vacinas para todos e a constatação de que quando “vira Manaus”, ninguém sai para fazer compras sem absoluta necessidade, independentemente de medidas restritivas.
Aos que se apegam a ideologias, os fatos são que “tratamento precoce” sempre foi de livre adoção pelos médicos, e se não está sendo adotado é porque a maioria dos profissionais avalia que não produz resultados, e que pedir a políticos que ordenem um tratamento que médicos e pacientes não desejam é também uma forma de restrição de liberdade.
Ao governo, coube a escolha difícil e o ônus de avaliar o momento como um todo e sem dogmas ideológicos, reagindo aos fatos que temos. E a realidade sempre se impõe. Afinal, como disse Ayn Rand, “você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”.