Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

O crack da política

15/10/2021 às 16:23.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:04

O crack é uma droga destrutiva e viciante, com efeitos devastadores para o indivíduo que o utiliza, para as pessoas à sua volta e para as comunidades onde ocorre seu comércio e uso. Não faltam alertas sobre seus perigos, mas ainda assim seu uso persiste. Quem o procura pela primeira vez, segundo estudos divulgados pela USP, normalmente o faz em busca de sensação de prazer rápida. Quem o procura, em geral, está ciente do risco de dependência, mas acredita que com ele será diferente. Quase nunca é.

Há na política algo análogo ao crack, sobre a qual também abundam informações e alertas sobre os riscos e perigos, mas para a qual também parece não faltar quem deseje experimentar: o populismo.

Fortemente caracterizado pela apresentação de soluções simples, rápidas e desprovidas de sacrifícios para problemas complexos, o populismo atrai o cidadão cuja dor imediata, em geral sentida no bolso, demanda alguma ação. Apelando para um antagonismo entre povo e elites e criando uma conexão direta entre o líder e a massa, o populismo corrói o tecido social, enfraquece as instituições e direciona as sociedades para o autoritarismo.

O populismo também é viciante. As tais soluções apresentam um efeito imediato de aliviar a dor do cidadão, mas ao custo de criar um problema muito maior. Esses problemas, com as novas e agudas dores que provocará, serão campo fértil para novas soluções populistas que terão potencial para gerar apoio imediato a quem as propuser. E assim o ciclo se repete.

Exemplo disto foi a intervenção do governo Dilma sobre as contas de luz em 2012, que gerou redução momentânea de 20%, uma quantidade incrível de votos para ela e uma conta amarga para os brasileiros pagarem tão logo passaram as eleições, com aumentos médios de 50% já no ano seguinte e aumentos menores que se estendem até hoje.

Outro, que ocorre neste momento, é a canetada proposta pelo governo Bolsonaro sobre o ICMS dos combustíveis. Proposta para valer a partir de 2022 (justamente ano eleitoral, quem poderia imaginar?), e sem resolver nenhum dos problemas que estão levando à alta dos preços. Na melhor das hipóteses ela poderia provocar uma redução momentânea nos preços entre 4% e 8%, ao custo de uma pressão por preços bem mais altos no futuro, a partir de 2023.

Mas em 2023 as eleições já terão passado e o político populista, tal qual o traficante, não se importa com os efeitos danosos do que ele oferece no longo prazo. Ambos buscam apenas o ganho imediato, financeiro ou eleitoral. Cabe a nós ficarmos atentos, evitarmos esses tipos e protegermos aqueles que amamos de cair na conversa deles.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por