Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

O machismo no esporte

23/07/2021 às 18:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:29

Eu amo esportes. Para praticar, prefiro o futsal. Para assistir, todos. Com o início das Olimpíadas de Tóquio, minha rotina passou a incluir longas madrugadas na TV. No Rio, em 2016, tive o privilégio de assistir ao vivo a mais de 30 provas. Está sendo diferente, e não só pela distância. A cerimônia de abertura, em especial, me fez refletir como o mundo mudou nos últimos cinco anos.

Não falo apenas da pandemia que tirou o público dos estádios, mas também do enfoque na diversidade e inclusão. É nítido como nos últimos anos o esporte abraçou essas causas, com destaque para a bolha da NBA contra o racismo, o uniforme do Vasco contra a homofobia e a muito simbólica alteração do centenário lema olímpico para incluir um “juntos” ao final.

São passos importantes, mas outros também poderiam ter sido dados, especialmente no combate ao machismo. O machismo é cultural e o esporte sozinho não vai eliminá-lo. Durante muito tempo ainda veremos cantos machistas nas arquibancadas e cobertura fotográfica e de TV dando insistente destaque a closes e cortes de corpos femininos que deixam a competição de lado por um instante para exibir apenas o que é considerado sensual.

Quanto a esse último ponto, COI e federações poderiam ter feito uma mudança simples, mas capaz de liderar o debate de opinião pública: as regras e escolhas de uniformes. Por que o uso de biquinis é obrigatório no handball de areia? Qual a utilidade das saias no tênis e no lacrosse? Por que são tão diferentes os uniformes masculinos e femininos, em especial no vôlei, atletismo e ginástica? Se é uma questão de mobilidade e conforto térmico, homens também não precisam disso?

A escolha parece estar ligada mais a aspectos culturais e comerciais. E é uma escolha que traz consequências danosas. Ela objetifica o corpo feminino e presume que mulheres só conseguem conquistar atenção com a exibição de seus corpos, e não de seus feitos, levando à necessária indagação se é esse o tipo de audiência que o COI deseja e se são esses valores que ele quer transmitir. Ela afeta negativamente milhões de meninas ao redor do mundo que começam a praticar esportes e se sentem incomodadas com a exposição de seus corpos, o que leva algumas a largar o esporte (e a perder todos os benefícios que ele gera) e outras tantas a desenvolver inseguranças que as prejudicarão para a vida.

Os Jogos de Tóquio serão maravilhosos, como o esporte é, mas a omissão no trato desse tema, especialmente em uma edição tão preocupada com o combate ao preconceito, é uma oportunidade perdida que talvez faça tanta falta quanto o próprio público nos estádios.

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