Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

Tempos sombrios em BH

Publicado em 02/08/2019 às 18:58.Atualizado em 21/11/2022 às 19:08.

“A noite é mais escura logo antes do amanhecer”. Essa frase do excelente filme “Batman, o Cavaleiro das Trevas” se encaixa com perfeição no atual momento de Belo Horizonte.

Na semana passada, BH viveu a primeira cassação de mandato de um político de sua história. Foi o vereador Cláudio Duarte (PSL), que responde a processo criminal sob a acusação do crime de “rachadinha”.

A “rachadinha” consiste na prática de o político ficar com uma parte do salário de seus assessores. Não se enganem: o prejudicado pela “rachadinha” não é o assessor que tem uma parte de seu salário subtraída. O assessor recebe exatamente o que foi combinado com ele. Os prejudicados somos eu, você e todos os cidadãos que pagamos os impostos usados para pagar os salários desses assessores. Nós é que pagamos mais do que o combinado, mais do que o assessor recebe pelo trabalho que realiza. A lesão é aos cofres públicos. É como se fosse um superfaturamento de obra, tão comum nas investigações da Lava Jato, mas que, em vez de embutirem a propina no preço do cimento, embutem no preço da mão-de-obra.

Na noite anterior à votação do processo de cassação, a presidente da Câmara Municipal de BH, vereadora Nely Aquino (PRTB), que já havia recebido telefonemas anônimos ameaçando a vida de seu filho de apenas 6 anos, recebeu vídeos gravados da criança em diversos momentos, indicando que ela estava sendo seguida. A vereadora descreveu o momento como sendo “aterrorizante”.

Também na véspera da votação, o relator do processo de cassação, vereador Mateus Simões (Novo), foi alvo de tentativas de intimação com abertura de processos criminais e de cassação contra ele próprio.

Por ser do mesmo partido e muito próximo ao vereador Mateus Simões, faço parte de alguns grupos de WhatsApp dos quais ele também participa. O que mais vi nesses grupos foram pessoas desejando ao vereador coragem e cuidado. Tempos sombrios esses em que um representante do povo precisa temer por sua integridade e ter cuidado por defender a ética.

A queda do vereador que responde a processo criminal é um ponto de luz que se anuncia no horizonte, mas antes de ela ocorrer, a Câmara Municipal de BH viveu seus piores momentos, sua hora mais escura. Cabe a nós, como povo, apoiar e agradecer os que hoje lutam na escuridão da Câmara. Cabe a nós, também, atuar para que esse ponto de luz não se apague e se transforme em uma alvorada luminosa. Nas eleições do ano que vem, cabe a nós colocar a ética em seu devido lugar de destaque ao sol.

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