Perspectiva RacialUm espaço para mostrar como o racismo se revela no cotidiano, a fim de que toda a sociedade compreenda a importância de se engajar nessa luta. Andreia Pereira é doutora em Literatura (UnB), servidora pública federal, jornalista, professora, pesquisadora e palestrante.

Por um ano realmente novo para a população preta no Brasil

Publicado em 03/01/2023 às 06:00.

São diversos os assuntos que eu gostaria de abordar neste meu primeiro artigo de 2023. O ano só está começando, mas já temos diversos acontecimentos sobre a negritude e o racismo estrutural. Para a população negra no Brasil, teremos um ano realmente novo se, pelo menos, algumas narrativas forem diferentes. Começamos bem.

O terceiro governo do presidente Lula possui cinco ministros negros: a ministra da Cultura, Margareth Menezes; a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco; o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida; a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva; e a ministra da Ciência e Tecnologia e Inovações, Luciana Santos.

Se comparado à quantidade de ministérios, que são atualmente 37, o número é modesto. Mas, se considerarmos a trajetória política do Brasil – desde a redemocratização (com a eleição de Collor) – e o contexto atual em prol da defesa da manutenção da democracia, estamos diante de uma grande conquista. E essa conquista é muito recente. Inclusive, Pelé, que nos deixa uma imensa saudade e um legado sublime no futebol e na superação do racismo, foi a primeira pessoa preta a ser nomeada ministro no Brasil desde as eleições de 1989. 

Pelé ocupou o cargo de ministro dos Esportes no primeiro mandato do governo de Fernando Henrique Cardoso e foi o responsável pela Lei nº 9.615 de 1998 (reconhecida como Lei Pelé), que permitiu que jogadores pudessem ser transferidos para outros times ainda com contratos vigentes. Nos governos de Collor e de Itamar Franco, não houve nenhum ministro negro para contar história.

Nossa luta por mais espaço reflete o quanto é difícil romper as barreiras do racismo estrutural e institucional no Brasil. Por isso, imagino que também não deve ter sido nada fácil para o presidente Lula escolher os ministros negros, sobretudo por conta do diálogo com os partidos que o apoiaram.

Por ora, acredito que a população negra está se sentido muito bem representada.  Eu estou. Contudo, passados os ânimos eufóricos de uma cerimônia de posse linda, sensível e inigualável, precisamos estar atentos ao papel e à autonomia de cada um dos ministérios comandados por uma pessoa negra/ preta. Espero que não sejam ministérios de enfeite e que os ministros negros possam contar com recursos e com todo o aparato necessário para o desenvolvimento dos trabalhos.

Espero, ainda, que os ministros negros possam estar, de fato, comprometidos com a nossa luta, a fim de que nas próximas eleições a quantidade de ministros negros possa ser, ao menos, duplicada. Com mais negros na política, sobretudo no Poder Executivo federal, poderemos num futuro breve testemunhar a primeira pessoa preta recebendo a faixa presidencial. Essa cena será ainda mais linda.

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