Tiago MitraudAdministrador e deputado federal pelo NOVO/MG. É Líder do RenovaBR e dirigiu a Fundação Estudar

As manifestações de setembro

Publicado em 27/08/2021 às 09:44.Atualizado em 05/12/2021 às 05:46.

O mês de setembro deve ser marcado por novas manifestações de rua no Brasil. Desde que realizadas de forma segura e pacífica, é saudável que a sociedade se mobilize para demonstrar apoio às pautas que defende. Trata-se, aliás, de fenômenos exclusivos de regimes minimamente democráticos, especialmente quando temos manifestações com pautas opostas, como veremos nas próximas semanas.

No dia 7 de setembro, apoiadores de Bolsonaro devem sair às ruas para tentar demonstrar que o governo ainda contaria com o apoio de uma parcela significativa da sociedade, mesmo que pesquisas recentes demonstrem que esse apoio seja cada vez menor.

O que seria uma manifestação espontânea da população, porém, ganha uma conotação mais grave pela atuação de Bolsonaro. O que temos visto é um Presidente, no exercício da de suas funções, insuflando atos em defesa de pautas antidemocráticas e do enfrentamento dos demais poderes da República, enquanto pautas realmente relevantes para o país seguem esquecidas. É inadmissível que Bolsonaro busque instrumentalizar algo legítimo (que é uma manifestação da população) em favor de seu projeto autoritário em meio a uma crise institucional.

E o dia foi escolhido a dedo. Há tempos, Bolsonaro tenta se apropriar dos nossos símbolos nacionais - como nossa bandeira, nosso hino ou a camisa da seleção - colocando-os a serviço de seu projeto de poder. É o que busca fazer com o 7 de setembro agora. Com o agravante de tratar-se de uma data na qual os militares tradicionalmente já vão às ruas. A intenção claramente é fazer parecer que a parada militar e a manifestação em defesa de pautas antidemocráticas são uma coisa só, como se os tanques que estarão nas ruas - como em todo 7 de setembro - representassem uma demonstração de apoio a suas ideias.

Já há, inclusive, problemas envolvendo a participação de militares da ativa atuando nas manifestações políticas do dia 7, o que é vedado. Um coronel da PM paulista foi afastado de suas funções após gravar vídeo em apoio aos atos. É importante lembrar que manifestações pacíficas da população são sempre bem-vindas, mas não podemos aceitar que o braço armado do Estado tome parte nesses movimentos. Qualquer desrespeito a essa regra deve ser punido exemplarmente se quisermos conter o processo de politização de nossas forças militares.

As manifestações do dia 12, por outro lado, serão de oposição a Bolsonaro, organizadas por grupos que também se opuseram ao governo do PT. Razões para demandar a saída do Presidente não faltam. Vão desde o uso de órgãos de Estado para a proteção de seus filhos até a péssima gestão da pandemia, que fez do Brasil um dos recordistas de mortes per capita entre países jovens, passando pelo estelionato eleitoral de um Presidente que se elegeu prometendo combater a corrupção e acabar com o toma-lá-dá-cá, e fez justamente o contrário, enfraquecendo operações como a Lava-Jato e entregando o governo ao Centrão. Isso sem falar nos indícios de corrupção na aquisição de vacinas.

Minha posição crítica a Bolsonaro não é novidade para ninguém. Vem desde a época em que ele era apenas candidato. Mas confesso que fico contente em ver cada vez mais liberais dispostos a se manifestar contra o Presidente. Considero fundamental que se deixe claro que a rejeição a Bolsonaro não é uma exclusividade da esquerda. E que um presidente incompetente, fisiológico e, acima de tudo, autoritário, sempre será rejeitado por todos aqueles que prezam pelos valores liberais. Que as manifestações do dia 12 ajudem a transmitir essa mensagem.

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