"É pela governabilidade", "Sou obrigado a fazer isso daí". Esses foram os argumentos apresentados por Bolsonaro para entregar ao Centrão aquele que é talvez o mais importante de todos os ministérios: a Casa Civil, “a alma do governo”.
A entrega do órgão ao Centrão nessa semana coroou, afinal, um fato que muitos bolsonaristas ainda se negavam a aceitar: o governo é do Centrão, bem como Bolsonaro. Até aqui, Bolsonaro ainda tentava esconder essa realidade. Dissociar-se do “sistema” do qual o Centrão é a expressão máxima, foi, afinal, fundamental na sua campanha em 2018, pautada pelo discurso de enfrentamento ao “toma lá dá cá”. Como há muito está evidente, esse discurso foi apenas mais uma promessa vazia de campanha.
Ficou pelo caminho também o compromisso com o enxugamento da máquina pública. Na campanha, prometeu trabalhar com 15 ministérios e, esta semana, criou seu 23°. A mais recente reforma ministerial levou à recriação do Ministério do Trabalho, entregue a Onyx Lorenzoni. Além de centenas de cargos, o “velho-novo” ministro irá controlar ainda os recursos bilionários do FGTS e o FAT, que antes estavam com Paulo Guedes. E pelo visto não deve parar por aí, o Centrão de Bolsonaro quer tirar de Guedes também a Indústria e Comércio e o poderoso Planejamento, que cuida das questões relacionadas ao Orçamento. Vale lembrar que o grupo já controla os bilhões do chamado orçamento paralelo.
A consagração do alinhamento do governo ao Centrão escancara ainda outro estelionato eleitoral de Bolsonaro: o combate à corrupção - que para muitos já havia ficado claro desde a saída de Moro. Mas, se restavam dúvidas, essas desapareceram agora que o governo negocia cargos abertamente com políticos cuja conduta está baseada em interesses próprios, geralmente relacionados à manutenção e ampliação de poder em detrimento do interesse público. Isso para não falar na vergonhosa e covarde atuação da base de Bolsonaro na votação do aumento do Fundo Eleitoral, e dos malabarismos que o presidente está fazendo para tentar justificar um aumento do valor do Fundão.
Ao ampliar o espaço do Centrão dentro do governo, Bolsonaro reduz as probabilidades de ser fiscalizado e investigado pelo Congresso, e praticamente elimina as chances de sucesso de um processo de impeachment. Se a estratégia de proteção pessoal do presidente tem um custo político para ele em termos de narrativa, o custo para a sociedade é muito maior. O loteamento de cargos disfarçados de “articulação política” compromete ganhos de eficiência do Estado, alimenta a corrupção e mantém políticos fisiológicos competitivos eleitoralmente, o que reproduzirá, mais uma vez, esse círculo vicioso.
Se alguém ainda tinha dúvidas de que Bolsonaro é, além de incompentente, um protagonista das velhas práticas políticas, espero que a última semana tenha servido de lição. Não há mais justificativas para acreditar que Jair Bolsonaro trará alguma mudança positiva ao país.
Para mudarmos de verdade a política brasileira, precisamos, como sempre, da vigilância constante da sociedade e atuação efetiva nas urnas. Contem comigo e com o Novo para isso!