Wadson RibeiroWadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da UNE e secretário de Estado

A nova estação brasileira na Antártica

Publicado em 15/01/2020 às 20:36.Atualizado em 27/10/2021 às 02:18.

A inauguração da Estação Antártica Comandante Ferraz no continente gelado é uma prova inequívoca do papel central que possui a pesquisa científica para o desenvolvimento nacional. Há mais de três décadas desenvolvendo pesquisa no continente, o Brasil reinaugura sua base após um incêndio que em 2012 destruiu grande parte das instalações. Serão mais de 4,5 mil metros quadrados de construção dentro da Ilha Rei George, em instalações mais modernas e com capacidade para hospedar um número maior de pesquisadores e de militares. 

Criado em 1982, o Programa Antártico Brasileiro, o Proantar, leva ao continente Antártico pesquisadores que atuam nas mais diversas áreas da investigação científica como, oceanografia, biologia, glaciologia, química, meteorologia, medicina. Na maioria dos casos, são profissionais oriundos das universidades públicas brasileiras, como o professor Luís Henrique Rosa do departamento de microbiologia da UFMG e que compõe o Proantar.

Além das instalações da base, as pesquisas também são realizadas em acampamentos, navios e estações menores, algumas delas a milhares de quilômetros da estação Comandante Ferraz, como o módulo Criosfera 1, um contêiner que coleta dados instalados a 2,5 mil quilômetros da Estação. Na nova Estação, será criado um laboratório de microbiologia de uso exclusivo da Fiocruz, para a pesquisa de fungos que só existem lá, o que poderá ser a chave para muitas descobertas e inovações. 

A nova Estação Antártica é considerada território brasileiro e recebeu investimentos de aproximadamente R$ 450 milhões. Sua obra foi executada pela empresa chinesa Ceiec, que construiu os equipamentos em módulos na China e os instalou durante os verões na Antártica, pois os invernos são quase inóspitos. A Antártica possuiu 14 milhões de quilômetros quadrados de área, detém 70% da água doce do mundo, uma das maiores reservas de gás do planeta e uma grande biodiversidade. O Brasil é um dos poucos países com capacidade de influenciar concretamente nos destinos do Continente, na sua relação com o desenvolvimento nacional e no equilíbrio com outras partes do mundo.

Contudo, mesmo com tamanha grandeza estratégica, isso nunca se refletiu de forma adequada nos orçamentos federais. Não fosse a atuação de muitos parlamentares que sempre compreenderam a importância do Proantar e suplantaram recursos, o programa não chegaria até os dias atuais. Programas como esses não podem ficar à mercê da vontade de governos de plantão, nem tampouco dependerem do Congresso Nacional. Precisam se transformar em política de Estado. Talvez esse seja um ensinamento aos neoliberais do governo federal, que não compreendem o papel do Estado como indutor de avanços científicos que não são atrativos para a iniciativa privada em países como o Brasil, dependem de investimentos públicos que precisam estar concatenados com um projeto soberano de país.
Espero que a nova Estação Antártica Comandante Ferraz traga luz e razão a um Brasil hoje obscuro. Que a nova Estação consiga a ajudar o Brasil a se tornar um Estado laico, democrático, desenvolvido e justo.

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