Diante de uma semana terrível para a economia mundial e brasileira, o presidente Jair Bolsonaro em vez de apresentar medidas concretas para proteger o Brasil e minimizar os impactos dessa crise, pôs mais lenha na fogueira da instabilidade política que o país vive. Além de endossar os protestos de rua contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, declarou, em visita aos Estados Unidos, que as eleições de 2018 no Brasil foram fraudadas e, por isso, não venceu o pleito em primeiro turno. Diante dessas declarações, ou o presidente apresenta provas concretas sobre a possível fraude, ou o presidente é um mentiroso contumaz e precisa ser punido por mentir à Nação.
Se o presidente estiver mentindo, a declaração em solo americano respeita uma lógica de aparições públicas do capitão que visam desviar a atenção dos brasileiros para os reais problemas que o governo e o país enfrentam. Enquanto o presidente literalmente viajava para fora do país, a cotação do dólar bateu os R$ 5 aqui no Brasil. As bolsas de todo o mundo caíram a patamares semelhantes à crise da moratória russa de 1998. Somente a Bolsa de Valores de São Paulo despencou 12% na última segunda-feira. O micro PIB brasileiro de 2019 foi anunciado com resultado de 1,1% de crescimento, revelando uma estagnação da economia brasileira.
Mas tudo isso não importa para o presidente, que não enviou nenhuma medida ao Congresso para enfrentar a crise, como o aumento de investimentos públicos para reanimar a economia ou a reforma tributária que pode ter impactos a curto prazo. Como sempre, elegeu um inimigo para desviar o foco, dessa vez, as eleições de 2018 que ele próprio ganhou.
Notadamente, o sistema eleitoral brasileiro é um dos mais modernos e seguros do mundo, não tendo contra ele nenhum caso comprovado de fraude nos últimos vinte anos. Sua implementação em todo território nacional foi algo que aprofundou a democracia no Brasil, ao permitir uma forma de votação mais segura, individual e secreta. Se o presidente da República possui provas que possam comprovar fraudes nas eleições de 2018, precisa imediatamente apresentá-las e o ministro Sergio Moro deve colocar a Policia Federal para apurar, de forma célere, essa denúncia. O povo brasileiro não pode ser governado por representantes cujos os pleitos se deram de forma fraudulenta. O respeito ao voto de cada cidadão é uma questão basilar em um sistema democrático. Um presidente da República não pode afirmar algo tão grave para o país e para a democracia, sem que haja uma completa elucidação do caso, com o risco de todo sistema político ficar sob suspeição.
Por outro lado, talvez seja a suspeição o que Bolsonaro deseja. Sua declaração pode também ser encarada como mais uma ameaça ao sistema democrático. É notório o desprezo do presidente e de parte do seu governo pelas instituições democráticas. O endosso aos atos contra o Congresso e contra o STF são exemplos dessa intolerância. O governo Bolsonaro é inimigo da democracia, se possível, governaria sem precisar do Congresso e do STF, de forma totalmente autoritária. Ao colocar sob suspeição a segurança do sistema eleitoral brasileiro e da própria lisura do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro pode estar abrindo caminho para justificar no futuro a inviabilidade das eleições livres. São em momentos de crises profundas no capitalismo, como ocorre agora, que as classes dominantes insuflam o fascismo e aniquilam a democracia.
A grande fraude nas eleições de 2018 foi a vitória de Jair Bolsonaro. Uma eleição manipulada por Fake News, sem debates políticos e que ressuscitou o obscurantismo como forma de ver o mundo.