Wadson RibeiroWadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da UNE e secretário de Estado

O preço dos combustíveis é mais uma consequência do golpe

23/05/2018 às 20:33.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:13

Bastaram apenas três dias de greve dos caminhoneiros e o caos já se avizinha. A circulação dos ônibus de Belo Horizonte e Região Metropolitana já está afetada e o número de viagens será reduzido a partir de hoje, devido à falta de combustível nas empresas operadoras. Voos que partem do Aeroporto de Confins já devem ser cancelados por falta de querosene de aviação. O comércio de alimentos já sofreu alteração e o desabastecimento, já sentido, está fazendo que produtos sejam vendidos em preço bem superior ao habitualmente praticado.

O movimento liderado pelos caminhoneiros é mais que justo, pois eles são os primeiros prejudicados com os sucessivos aumentos nos combustíveis, disparados desde o golpe que tirou do poder a presidenta eleita, Dilma Roussef. Colocado pelo Michel Temer no comando da Petrobrás, o presidente da empresa, Pedro Parente, alterou a política de preços das refinarias, que passou a praticar a paridade com o mercado internacional. Começou a aumentar os valores de acordo com a variação do barril de petróleo, sem estabelecer qualquer mecanismo de proteção para o consumidor. Só neste mês de maio, o diesel já aumentou 12,3%. Os altos preços impactam nos fretes rodoviários, que, por sua vez, refletem nos preços dos alimentos e dos produtos industrializados.

Além da adoção da nova política de reajustes, a Petrobras anunciou uma alteração no valor dos derivados nas refinarias, colocando mais combustível na já incendiária situação dos caminhoneiros. E o problema não foram só os aumentos, foi reduzida a carga de produção das refinarias, que estão operando com 75% da capacidade em vários estados. Isto tudo para privilegiar as importadoras de combustíveis, que em 2017 trouxeram para o país mais de 200 milhões de barris de derivados de petróleo, número recorde da série histórica da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Todas as medidas são direcionadas ao investidor externo. Os detentores de ações orientam que a direção da Petrobras aumente os seus lucros com a variação nos preços do barril de petróleo praticada pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. A direção da Federação Única dos Petroleiros alerta que toda esta política tem como objetivo a privatização. As refinarias, os dutos e terminais da Transpetro já foram colocados à venda e se passarem para a iniciativa privada, o governo brasileiro perde a possibilidade de controlar o preço do combustível que chega nas bombas dos postos. Com os preços nas alturas e o governo sem poder de interferência, a Petrobras passaria a ser uma cobiçada empresa a ser privatizada.

Impossível falar de Petrobras, de soberania, de preços de combustíveis e não relacionar com o cenário político judicial que tomou conta do país nos últimos anos. Está tudo relacionado. O caos em que nos encontramos é fruto do golpe que apenas está cumprindo seus objetivos. O Ministério Público Federal move ações até hoje contra membros dos governos Lula e Dilma acusando-os de segurar o preço dos combustíveis que chegava ao consumidor. 

No início do ano, a Petrobras fechou um acordo com investidores dos Estados Unidos e fez o pagamento de quase R$ 10 bilhões a título de indenização. Para completar a ópera buffa, há poucos dias, o juiz Sérgio Moro foi homenageado em Nova Iorque por serviços prestados aos Estados Unidos, numa festa bancada pela própria Petrobras. Lá, pousou ao lado do tucano e ex-prefeito de São Paulo, João Doria. Enquanto o Brasil quase se desintegra, os golpistas comemoram seus feitos junto com seus patrões estadunidenses. E tudo às custas de nossas riquezas. 

  

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