Ricardo RodriguesConselheiro da Abrasel-MG, Diretor do restaurante Maria das Tranças e da Cruz Vermelha, Mentor, Palestrante e Consultor Sebrae

Transporte: para quem?

Publicado em 06/05/2022 às 06:30.

Como se já não bastasse toda a inoperância do sistema de transporte público durante esses dois anos de pandemia, desde o último dia 29 os passageiros de todas as 282 linhas de ônibus que circulam em Belo Horizonte vêm sendo afetados pela redução drástica da oferta de viagens. Com a medida, os usuários estão esperando mais pelos veículos e enfrentam coletivos ainda mais lotados,

Para vocês terem uma ideia da situação caótica, no dia 6 de abril, 192 linhas – total de 68% da frota - circulavam de hora em hora fora do horário de pico, segundo a Transfácil. Recentemente, no último dia 3, esse número subiu para 228, o que corresponde a 81% dos carros operando com intervalos extensos entre as viagens, ou seja, quase todos os coletivos da capital.

Toda essa situação, obviamente, afeta inúmeros setores, entre eles o de bares e restaurantes, principalmente aqueles que funcionam em horário noturno, período em que a escassez de transporte público na cidade vem sendo mais sentida.

Vocês já pararam para pensar, por exemplo, como fica a volta para casa de um garçom, cozinheiro ou atendente que mora na região metropolitana, mas trabalha em um dos bares da rua Alberto Cintra, por exemplo, que funcionam majoritariamente até de madrugada? O mesmo questionamento se aplica a outros bairros boêmios da capital, como Santa Tereza, Anchieta, Lourdes e Savassi.

Nas últimas semanas tenho escutado nem um ou dois, mas vários relatos de colegas que vêm fazendo malabarismos com a equipe para permitir que a operação não seja prejudicada ou minimamente afetada: há empresários que estão recorrendo ao transporte por aplicativo para os funcionários, o que demanda um alto gasto, já que essas empresas aproveitam a falta dos ônibus para cobrarem fortunas pelo serviço.

Há aqueles que têm optado deixar no horário noturno, quando possível, os colaboradores com transporte próprio, mas ainda assim é preciso cobrir as despesas com gasolina que, diga-se de passagem, estão pela hora da morte.

Há situações, até mesmo, de casas que estão fechando mais cedo para que o colaborador tenha tempo de pegar o último coletivo. Caso contrário, sabe-se lá que horas ele conseguirá chegar em casa.

Nem preciso dizer o quanto esse cenário fere um dos direitos básicos do trabalhador: a garantia de ir e vir com segurança e dignidade.

As únicas coisas que sabemos até agora é que:

1) os empresários do transporte, por falta de reajuste tarifário, reduziram os horários das viagens para levarem menos prejuízos;

2) apesar das penalidades aplicadas pela BHTrans, nenhuma multa foi paga pelas empresas;

3) o sistema está completamente falido e a desorganização é sistêmica. Uns empurram a culpa para cima dos outros e vice-versa.

Para mim, sinceramente, pouco importa quem são os reais vilões dessa novela. Como cidadão, anseio por solução, por um final minimamente feliz, se é que ainda seja possível.

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