O jogo já tinha terminado no Mineirão e eu não entendia como um grupo de atleticanos ainda vibrava, gesticulava e reclamava numa lanchonete do bairro Cidade Nova, no momento em que voltava da casa dos meus pais, na última quinta-feira.
Como havia dormido mal na noite anterior, cheguei a duvidar de mim mesmo, imaginando que teria sonhado com o placar de 3 a 0 diante dos americanos. Quase entrei na lanchonete para tentar ver o que tanto mexia com os nervos atleticanos.
Respirei aliviado ao identificar as cores das camisas de Flamengo e Fluminense, que começaram o seu duelo mais tarde. Já nos finalmentes, a “secação” só teve êxito por alguns breves minutos, quando o Flu comemorou o gol de empate, anulado depois.
Puxei o Cartacho da turma revoltada – ele, o único mecânico a botar a mão no meu carro em quatro anos. Parecia outra pessoa, nada a ver com a figura doce e solícita que sempre elogiava o meu Uno 92, dizendo que já merecia uma “placa preta”, conferida a carros antigos e bem conservados.
De rosto vermelho, suado e olhos crispados, Cartacho estava mais nervoso que nas partidas do Galo, xingando o árbitro e repetindo inúmeras vezes que o título do Brasileirão tinha sido comprado. Quando vi o replay, o gol, de fato, não era legítimo, mas àquela altura ninguém queria saber. Foi roubo e pronto!
Senhor Acácio, dono da lanchonete e que assegura não torcer para time nenhum (tenho as minhas dúvidas), preocupava-se a cada batida com força na mesa, pedindo ao garçom para ser tão ágil quanto os jogadores, tirando os copos e as garrafas da “marca do pênalti”.
Lembrei-me de 2012, quando o Atlético que seria campeão da Libertadores, no ano seguinte, já não dependia de suas forças e via o Fluminense ganhando todas na reta final, com ou sem ajuda do juiz, em jogos feios, decididos num lance de pura sorte.
O sofrimento do secador é imenso, talvez pior do que a expectativa de reverter um placar desfavorável nos mata-matas da Libertadores. Sabemos quem é quem no nosso time e do que é preciso para ganhar. Mas quando é uma equipe que mal acompanhamos?
Magno Alves, para mim, já tinha se aposentado, depois de pouco fazer no ataque do Galo de 2011. Gum é marca de chiclete. Gustavo Scarpa parece nome de socialite. Ver Pierre em campo com o uniforme do Fluzão deu um certo alívio, mas não foi o suficiente.
Nesse momento, estamos assim: observando quem está machucado ou suspenso nos próximos times que enfrentarão os dois líderes do campeonato. Dá para apostar que Figueirense e o Internacional, os dois no Z-4, terão condições de tirar algum pontinho?
Assim que a rodada termina, meu filho Breno costuma fazer um informe detalhado da situação dos clubes que merecerão a nossa torcida. A ansiedade começa aí, a ponto de meu cunhado Marcos desistir de ver a partida do Galo quando há outra no mesmo horário, para secar Flamengo ou Palmeiras.
“Secar” virou palavra de ordem, superando velhas rivalidades. Fala aí: qual atleticano não estava torcendo para o Cruzeiro marcar um meio gol que fosse diante do Palmeiras? Como disse certa vez Xico Sá, “secar é a expressão máxima de um certame de pontos corridos”. Dói até na alma.