Luan não tem nome de profeta, mas os anjos do céu poderiam dizer amém às suas palavras, ao lembrar que todos os seus retornos ao time, após semanas se recuperando de contusão, foram marcados por campanhas vitoriosas. Foi assim na Libertadores-2013 e na Copa do Brasil-2014. E, sem jogar há mais de três meses, esperamos que a história se repita agora, quando voltará a campo para enfrentar o Coritiba.
Das outras vezes, ele compensou o longo tempo parado desdobrando-se pelo Atlético, como se atuasse a 110%, beirando o limite do seu corpo. Entre as quatro linhas, ele distribui as jogadas, tabela com Marcos Rocha pela direita, chega ao ataque e ainda volta para marcar. É o perfeito jogador moderno. Perfeito, em termos. Tanto esforço tem um preço e o de Luan é ficar de fora alguns meses do ano, tempo para juntar forças novamente.
Um dos resultados desse futebol de hoje, que substitui o carrossel pelo bate-bate, os carrinhos de choque dos parques de diversão, é que as principais atrações podem estar indisponíveis – para usar um vocábulo comercial – em alguns momentos da temporada. No caso do Atlético, quase todos os jogadores importantes do grupo passaram por essa fase no primeiro semestre de 2016.
É como se boa parte deles tivesse brigando para ver quem tiraria férias em julho, sem ter ninguém para substituí-los. O Departamento Médico do Galo chegou a receber um time inteiro há pouco tempo, quando Marcelo Oliveira entrou no lugar de Diego Aguirre, e tenho certeza que venceria facilmente a equipe que foi a campo. Nesse instante, o DM foi reforçado pelo meia equatoriano Cazares, a grande estrela do Atlético e do Brasileiro.
A palavra lesar tem vários significados e uma delas é prejudicar, retrato do Atlético nesse ano, que chegou a ficar sem seus dois goleiros durante a principal competição (Libertadores). No ataque, no lugar de competirem entre si para ver quem marcava mais gols, a disputa parecia ser quem deixaria de jogar mais tempo. Dátolo passou por sucessivas contusões e até quem não estreou já machucou, como o lateral Fábio Santos.
A lesão de Cazares não poderia ser mais estapafúrdia, com tintas de comédia de humor negro, devido ao resultado amargo que veio depois, com a derrota de 2 a 0 para o Flamengo. O talentoso meia se machucou no aquecimento. Quando nos demos conta, Patric estava em seu lugar durante a execução do hino. No cinema, seria como ter o nome de ator em letras garrafais nos créditos e ele só aparecer alguns segundos na tela.
Alguém que deverá ser um dos maiores craques da história do Atlético participará, possivelmente, de metade das partidas do clube nesse ano. Até agora, foram 25 em 44, contando o Florida Cup e a Primeira Liga. Desde que chegou, é uma luta constante para vestir o uniforme alvinegro. Começou com os problemas para se desvincular de sua ex-equipe, o Banfield, da Argentina, onde estava emprestado pelo Independiente Del Valle.
Depois foram um furúnculo e a teimosia de Aguirre (até que alguém diga o contrário). Com Marcelo Oliveira no comando, realizou duas partidas pelo Brasileiro, com dois gols, e foi servir a seleção equatoriana. Retornou no instante em que o Galo saiu das últimas colocações e ascendeu na tabela, sendo o principal responsável. Elogiado por todos, não deverá dar as caras tão cedo, com uma contusão que o deixará de molho por três meses.
É como um James Dean atleticano. A ânsia do público em vê-lo mais vezes numa partida é inversamente proporcional à efetivação dessa vontade, como duas forças que se repelem. Quando deixar o Galo, o que não demorará a acontecer, não serão muitas as testemunhas que o viram in loco. Alguns poderão se gabar de ter visto Cazares aqui jogar, como aqueles que compartilharam o mesmo espaço físico de um Pelé.