Zorro será o primeiro a sair. Na verdade, Zorro é uma fêmea, mas como seus pêlos fazem uma espécie de máscara preta sobre os olhos, foi batizada assim. Os outros três são Félix, há quase dois anos em casa; Mia, que veio logo depois; e Brisa, a primogênita do casal.
Cada um tem seu xodó lá em casa. Gosto do Félix porque ele só ronrona comigo. Além de ser branco e preto como o Atlético. Brisa é bonita, cor preta e cauda peluda, igual ao do pai. Mia tem seus defensores, mas a sua cara constantemente triste a deixa em terceiro na minha lista.
Imagino que é um momento muito parecido com o que o Galo está vivendo, dispensando jogadores que fizeram parte da história do clube. Não foi fácil mandar embora os outros três gatinhos (sim, chegamos a ter sete deles num apartamento).
Hoje eles estão espalhados por aí, monitorados pela minha filha, coincidentemente com nomes iniciados pela letra M – Max, Millie e Marmelada. Mas não arrependemos, pois chegou um momento em que nos trancávamos nos quartos, com o resto da casa para eles.
Mais ou menos como no Atlético em 2016, desorganizado porque povoou determinadores setores, deixando outros carentes. O momento de arrumar a casa é sempre complicado, dói porque, como no caso dos felinos, laços foram criados.
Quando vemos as fotos antigas, rimos e sentimos saudades. E penso ser melhor assim. Nunca esquecerei do que Dátolo e Donizete fizeram pelo Galo. Ninguém, ninguém mesmo, poderá dizer que os dois não “vestiram” a camisa, sinônimos de doação em campo.
Cuca e Levir souberam tirar do General exatamente o que precisávamos: a destruição. Ao lado de Pierre, formou uma primeira barreira sólida, só derrubada pelas regras do futebol moderno, em que o volante tem que destruir e participar do ataque também.
Existe uma arte da destruição e Donizete era seu mestre, tirando a bola e continuando com ela nos pés. Quando precisava fazer uma jogada mais dura, não titubeava. Com Léo Silva, era responsável por peitar qualquer engraçadinho, qualquer jogada enfeitada.
As conquistas de 2014 se devem muito ao Dátolo, especialmente a Copa do Brasil, empurrando o time para frente, com as suas passadas fortes, participando de todos os lances. Na ausência de Ronaldinho, chute de falta era com ele. Incansável, ainda voltava para marcar.
Seu futebol brilhava diante do Flamengo. Na campanha do título da Copa do Brasil, marcou o terceiro gol da vitória de 4 a 1, com a bola amortecida no peito de Marion e batendo de primeira, de fora da área. Em 2015, novo 4 a 1 e um gol gerado após girar e dar uma caneta em Pará.
Foi dele o segundo gol na decisão de 2014, explodindo de felicidade na comemoração, batendo a mão no braço e encarando Luan, vibração que só tinha igual quando Jô e Ronaldinho se trombava no ar. Dátolo era pura energia, exibindo raciocínio rápido e oportunismo.
Embora tenha sido um dos artilheiros do time no Brasileirão de 2015, o argentino caiu de produção após os jogos contra o Internacional, pela Libertadores, saindo de campo vaiado. Situação que se agravou com as lesões seguidas.
Agora ele e o General se despedem do clube, deixando na memória de cada atleticano lances, gols, títulos e um amor verdadeiro à camisa alvinegra. Por tudo o que fizeram, continuarão sendo nossos ídolos, algo que o tempo nunca irá apagar. Obrigado Donizete! Grato, Dátolo!