Juju chega em casa chorando, com a pintura escorrendo pelo rosto. Na gincana da escola, a equipe Preto e Branco terminou na última colocação. Como pai, tento explicar didaticamente, travestido de filósofo de banheiro, sobre uma vida permeada por vitórias e derrotas, mas acabo perguntando se as mesadas oferecidas pelos pais estão em dia. E se não houve um erro de formação das turmas pela direção da escola.
Com o salário dos jogadores do Atlético em atraso, e um cada vez mais evidente problema de montagem da equipe para a temporada, o mundo parece conspirar contra aquilo que já foi considerado uma combinação clássica: o preto e o branco. Dobradinha que foi marca registrada da estilista Coco Chanel, representando tradição e, ao mesmo, originalidade. No futebol brasileiro, ao que parece, saiu completamente de moda.
“Não tinha outra cor?”, indago, já enterrando qualquer pretensão de vaga na Copa Libertadores. O campeão foi o Verde, revela a minha filha, sem deixar de manifestar uma ponta de arrependimento por não ter escolhido a cor favorita. Fui, lembro agora, aquele quem insistiu para ela aderir às chamadas cores neutras. Afinal, Ju cresceu em meio à ascensão atleticana, entre 2012 e 2016, testemunhando palavras como milagre, santidade e iluminação.
Preto e branco viraram uma espécie de manto, uma proteção religiosa, garantia de sucesso e felicidade. Não tinha como dar errado. Alguma coisa até poderia sair da ordem, só para nos encher de orgulho depois – basta lembrar dos sustos pregados por Tijuana, na Libertadores de 2013, e por Corinthians e Flamengo, na Copa do Brasil de 2014. Em questão de minutos, um título que parecia sepultado ficava mais vivo do que nunca.
Agora, como na gincana da escola de Juju, com o verde não tem para ninguém. Nada menos do que 20 pontos separam o esmeraldino Palmeiras do Galo na classificação. Os dois se enfrentam neste domingo e me sinto como uma Regina Duarte, avisando a todos sobre o meu medo. Não sou antiverdista, é bom dizer. O verde entrou em nosso horizonte desde a grande liquidação feita pelo Palmeiras no final do ano passado.
Viramos o cliente preferencial, mas os resultados me fizeram lembrar das aulas de História, quando usamos as nossas reservas de moeda estrangeira, na metade do século passado, para adquirir produtos supérfluos. Alguns vieram com defeito de fábrica, necessitando a troca imediata, como Arouca e Erik. Outros precisaram de uma gambiarra para funcionar, caso de Róger Guedes, que quase foi parar no topa-tudo.
Meu amigo Do Carmo, que é uma enciclopédia ambulante de futilidades, me disse, entre um gole e outro, que o preto e o branco podem ser tudo – e também nada. Pensei que tinha baixado nele o espírito de Raul Seixas, ao citar um refrão daquela música “Gita”, mas ele me explicou que as duas cores, por serem absolutas, significam tanto a soma das demais como a ausência total.
O Galo, portanto, vive a sua fase de completa ausência, justificada pelo fato de as cores neutras serem de baixa intensidade, reflexo e energia, que são o retrato do time nesta reta final de Brasileiro. Para boa parte do grupo, creio, a temporada já terminou, exibindo um jogo tão comprometido quanto aquelas peladas de férias que os jogadores participam, já fora de forma e sem se esforçarem muito, para não começarem o ano contundidos.
Que venha logo 2019.