Marcelo Batista*
2011. Rio de Janeiro (RJ). Um jovem de 23 anos entra na escola Municipal Tasso da Silveira, localizada no Realengo, armado com dois revólveres. No ataque, Wellington Menezes matou 12 jovens, com idade entre 13 e 15 anos e deixou mais de 22 feridos. Antes de ser levado pelos policiais, ele cometeu suicídio.
2019. Suzano (SP). Dois atiradores e ex-alunos invadem a escola Raul Brasil, matam cinco estudantes e duas funcionárias da escola. Antes do ataque, num comércio próximo da escola a dupla matou também o tio de um dos assassinos. Após o massacre, um atirador matou o comparsa e logo depois cometeu suicídio.
2022. Barreiras (BA). Um jovem de 14 anos entra no no Colégio Municipal Eurides Sant’Anna empunhando uma arma. No momento em que o estudante ia em direção aos colegas, aproximadamente 40 alunos estavam na quadra de esportes. O jovem entrou atirando, mas a arma falhou duas vezes e com isso muitos conseguiram fugir. Não foi o caso da cadeirante Geane da Silva Brito, de 19 anos, baleada, atingida por golpes de faca e assassinada. O jovem usou a arma do pai, que é policial militar e mantinha a arma de maneira “segura" embaixo do colchão de uma cama que, segundo ele, não era usada.
Apesar do distanciamento temporal, os crimes têm episódios em comum, além de serem praticados em instituições de ensino. Em todos os casos, eles são cometidos por alunos ou ex-alunos da instituição, os assassinos encontram fácil acesso a armas de fogo e são motivados por um ódio inexplicável, especialmente pelo ambiente escolar.
Ao atacar a própria instituição de ensino onde estuda, ou estudou, o jovem demonstra claramente um ódio pelo próprio sistema educacional a que foram submetidos. Muitos deles, após serem vítimas de bullying, buscam as instituições numa tentativa de se vingar. Outros, como no caso recente de Barreiras, buscam realizar o crime por ódio dos próprios colegas.
Esse tipo de situação é, certamente, reflexo pela grande facilidade de acesso às armas de fogo no país, seja por ter um policial na família ou pela compra no mercado clandestino. Em um país em que jovens conseguem armas com tanta facilidade é de se esperar que crimes desse tipo ocorram com frequência.
De onde vem tanto ódio para esses jovens? Em um país em que não há discussão sobre a importância de se aceitar o outro e até mesmo debates sobre diversidade fica fácil entender. No século XXI, muitos, levados pelos algoritmos e pela radicalização de bolhas informacionais passam a entender o outro - o diferente - como um rival, um inimigo a ser batido, o que potencializa esse tipo de ação. Para piorar, as escolas brasileiras não oferecem de maneira efetiva apoio psicológico aos alunos. Nesse contexto preocupante, é altamente perceptível que esse tipo de situação possa acontecer. Precisaremos de quantas mortes para discutir sobre empatia e saúde mental nas escolas? Precisaremos de quantas mortes para restringir ainda mais o porte e comercialização de armas no Brasil?