Léo Miranda*
Na última semana estava assistindo um telejornal local quando me deparei com uma reportagem sobre um aumento repentino no volume de águas de um rio que deságua no lago Furnas, em Capitólio. No título da reportagem percebi um erro conceitual relacionado a geografia e muito comum, a denominação “tromba d'água" para um fenômeno que, na verdade, é tecnicamente denominado de “cabeça d’água”.
Ao perceber o erro, tirei uma foto da TV para que pudesse fazer um vídeo para o perfil do Mundo Geográfico no Instagram, com o objetivo de explicar a diferença entre os termos. No dia seguinte gravei o vídeo e o postei no perfil. O que eu não esperava era a reação imediata das pessoas na postagem, tanto na quantidade de curtidas (bastante elevada), quanto nos comentários.
Esses me chamaram muito a atenção em especial. A maioria daqueles que comentaram a postagem diziam-se surpresos e ao mesmo tempo gratos pelo esclarecimento, mas como em toda atividade em rede social, houve um comentário bastante desagradável, o que não é novidade no mundo das redes, os famosos “haters” são quase sempre um indicador de que a postagem foi bem-sucedida.
Apesar de já saber que comentários negativos fazem parte do jogo, me chamou a atenção o que foi escrito, que em resumo era algo do tipo “não há erro nenhum no título da reportagem, eu chamo da forma que eu quiser”. Não costumo responder esse tipo de comentário, mas dessa vez não pude me furtar. Logo no início da réplica, expliquei que o intuito do vídeo não era o de condenar nem o veículo de imprensa, muito menos quem utiliza os termos de forma equivocada, mas sim uma forma de esclarecimento que leva ao conhecimento, pois o Mundo Geográfico é uma página de educação.
Não satisfeito, entrei por curiosidade no perfil que havia enviado o comentário no mínimo deselegante. Descobri para o meu espanto que era também de um professor de geografia. Apesar do fato desagradável, comecei a refletir sobre como chegamos a esse ponto e principalmente para onde ele nos levou e ainda leva. Desrespeito, ódio, falas agressivas, apesar da discordância ser algo muito valioso em qualquer instância das nossas vidas, as redes sociais deram palco a todos aqueles sentimentos mais negativos e muitas vezes alimentados por narrativas e discursos que vão na mesma linha.
As cenas lamentáveis e absurdas vividas em Brasília no último domingo dia 8 de janeiro são a prova mais evidente do poder da manipulação de narrativas autoritárias e antidemocráticas, mas também do uso das redes sociais como forma difundir o discurso de ódio, de desrespeito, com o outro, com as intuições, com a ciência e tudo aquilo que foi constituído pelas diferentes vivências e momentos históricos. Ver uma pessoa esfaqueando uma obra de Di Cavalcanti, ou defecando sobre uma obra de arte é a prova de que falhamos e continuamos falhando na educação. Mas não qualquer educação, aquela que nos leva de fato à cidadania, ausente entre todos aqueles que aderiram à barbárie.