EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

O tempo e o espaço perdidos

09/04/2021 às 12:54.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:39

Léo Miranda*

 No dia 17 março passado completou-se um ano em que estudantes, professores e todos envolvidos com a educação foram separados da escola. Dali em diante o espaço físico foi trocado pelo espaço virtual (quando possível), uma mudança intensa frente aos passos lentos em relação ao cenário anterior a pandemia. À medida que o tempo avançava descobriu-se que o mundo digital seria durante algum tempo o “novo normal”. Ele passou a demandar mais do que ferramentas tecnológicas, o que se confirmou, quando começamos a descobrir e problematizar o ensino on-line como nunca havia sido feito antes, com a diferença que a separação temporal inerente a análise de contextos históricos não seria possível. Literalmente começamos a trocar a roda com o carro em movimento.

 Em meio às aulas síncronas e assíncronas os desafios se multiplicaram sem que tivéssemos as ferramentas pedagógicas e emocionais necessárias para conduzir as aulas on-line como o fazíamos no ensino presencial. Na dicotomia diária, professores e alunos passaram a compartilhar os mesmos dilemas que de alguma forma modificaram a experiência da aula, principalmente aquelas relacionadas ao tempo, ao espaço e aos ritos antes experimentados. O espaço da aula, antes coletivo, fundiu-se ao espaço particular, aquele onde buscávamos descanso e que construímos de acordo com a nossa individualidade. Não é de se estranhar que muitos alunos não se sintam à vontade para abrir as câmeras quando interpelados durante a aula pelos professores, pois não querem compartilhar o que não deveria necessariamente ser compartilhado.

 No espaço particular, o tempo também é outro. Afinal, acordar cedo para estudar dentro do mesmo quarto em que se dorme acaba por produzir uma confusão de tempos, o que resulta no baixo engajamento no ensino on-line, ou o gourmetizado, e-learning. Podemos somar a essa abordagem os ritos. Façamos um exercício de imaginação. Em uma aula presencial, toca o sinal, os alunos entram para a sala e começam a buscar os seus lugares e quando o professor adentra a sala todos se sentam diante do animado bom dia. Os cadernos são abertos, a matéria começa a ser registrada no quadro pelo professor, que vez ou outra, dá aquela espiada para ver se realmente os alunos a estão copiando o que é escrito no quadro. Agora tente imaginar esse mesmo processo no ensino Ead, como seria? Difícil imaginar os mesmos ritos, os mesmos processos, pois estamos em um novo tempo e espaço. Como o antigo ditado afirma, “remendo em roupa velha nunca fica bom”.

 A abordagem parece óbvia, mas nem sempre a conseguimos captar e principalmente agir em relação a ela com a clareza e assertividade que gostaríamos. A realidade dura da pandemia nos lançou em outro mundo e com a educação não foi diferente. Resta agora construir (ou reconstruir) uma saída, pois, parafraseando o filosofo Heráclito, nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio, pois nem ele nem o rio serão os mesmos na segunda vez.

 (*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico

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