Leo Miranda (*)

Uma pesquisa sobre a percepção dos brasileiros sobre o desmatamento na Amazônia encomendada pela ONG Greenpeace ao Instituto Datafolha e divulgada no último domingo pelo programa Fantástico revelou que 87% dos entrevistados deram nota máxima sobre a importância sobre a proteção amazônica. Foram entrevistadas 1.524 pessoas por telefone entre os dias 6 e 18 de agosto. O que chama a atenção é que, apesar da polarização política no país, houve quase que unanimidade sobre a importância de preservação da Floresta Amazônica. Porém, outros resultados apresentados por meio da pesquisa mostram o quanto a assunto ainda é pouco familiar aos brasileiros. Chamou a atenção também que para 60% dos entrevistados a principal fonte de informação sobre o tema é a televisão e que uma em cada três pessoas que participaram da pesquisa não acreditam na ciência. 

A amostra da entrevista foi composta por pessoas de todas a idades e possivelmente de condições econômicas e instrução formal variada. Apesar do espectro favorável à preservação amazônica, os dados quando analisados de forma mais completa revelam como em outras áreas no nosso país o tamanho da desinformação, bem como do desconhecimento sobre a própria geografia da região amazônica. Outro ponto importante a ser considerado é a campanha deliberada de leniência e destruição dos órgãos ambientais em curso no Brasil, apoiado em um discurso do “ou nós geramos riqueza ou preservamos a Amazônia”. 

Com base no cenário ambiental posto no país há de se perguntar: o que sabemos sobre a Amazônia? Ou talvez de forma mais ampla, o que sabemos sobre a importância da preservação e conservação ambiental no Brasil? Quando trazido para o âmbito escolar o debate repercute muitas vezes no descolamento entre o que é ensinado e a realidade. Falar da floresta amazônica de forma descritiva em uma aula de geografia não permite o desenvolvimento da criticidade quanto aos efeitos mais deletérios do desmatamento seja ele onde for no Brasil (ou no mundo). Contudo, atribuir a missão de formar pessoas mais críticas e informadas sobre o tema às aulas de geografia é no mínimo desacreditar o papel do conhecimento como um todo (principalmente o científico), da maneira que o faz um terço dos entrevistados da pesquisa do Datafolha. 

As questões ambientais não são um tema meramente ideológico como tem sido tratado no Brasil no período atual. Pelo contrário, se nada for feito as mudanças climáticas impulsionadas entre outros fatores pelo desmatamento amazônico trarão consequências sociais e econômicas graves em curto espaço de tempo como já é percebido em vários lugares no mundo, inclusive no Brasil. A mudança de postura quanto ao tema é imediata, mas carece também de aprofundamento nas escolas para além da mera descrição. É na “base” que começaremos a subsidiar efetivas mudanças na sociedade brasileira, para além dos estereótipos de meio ambiente construídos ao longo de anos pela ausência de uma abordagem interdisciplinar do tema.

(*) É professor de Geografia, graduado e mestre pela UFMG. Também é fundador do canal educacional Mundo Geográfico
 

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