EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Sobre o Geraldo e o Djonga

26/10/2021 às 19:12.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:08

Marcelo Batista*

Não era a primeira vez que eu ouvia essa história. Um dos principais artistas da contemporaneidade citava um professor de história, do cursinho, que havia sido a sua grande inspiração para que iniciasse uma graduação na mesma área, na UFMG, antes de se dedicar  exclusivamente à carreira profissional como cantor. O grande artista em pauta era o rapper mineiro Djonga, que citava o Geraldo, professor muito conhecido por muitos amigos e companheiros da educação, citado com menos de 4 minutos de entrevista concedida a um outro ícone da música, Mano Brown, dos Racionais Mc’s.

Lembro, com essa referência do Djonga a um conhecido, sobre duas passagens que tive, ainda muito jovem, em uma escola particular na região norte de Belo Horizonte, que acabou marcando muito a minha vida. Na primeira passagem, há 13 anos, em uma das primeiras experiências como professor contratado, dava aula para o ensino fundamental, algo sempre difícil para mim. Lidava no cotidiano com meninos de entre 11 e 13 anos de idade, com muita agitação e curiosidades. Queriam sempre extrair o máximo da minha vida pessoal e saber meus gostos, meus segredos e tudo que vivia fora do contexto de sala de aula. Do outro lado estava eu, um professor preocupado em tentar revolucionar o sistema educacional e ainda com esperança de mudar toda a lógica do ensino. Por motivos pessoais resolvi sair da instituição e me aventurar em uma nova carreira e lembro que na minha saída recebi diversas cartas, agradecimentos, o choro comovido de muitos alunos e com certeza a maior sensação de carinho e acolhimento que já vi ao longo de toda a minha vida.

Por coincidência, entre e idas e vindas profissionais, tive a oportunidade de voltar a dar aula para vários desses alunos da escola quando eles já estavam no ensino médio. Eu, mais maduro e satisfeito com a profissão, dando aula em um segmento que adorava. Eles, mais velhos e cheios saudade. A combinação perfeita. Fui um dos professores homenageados no ensino médio e lembro com muito carinho de todos esses alunos. Hoje, pelas redes sociais percebo que muitos caminhos se fizeram no campo profissional desses ex-alunos. Um se tornou caminhoneiro, outro fazendeiro, outro bibliotecário e leitor dos meus textos aqui na coluna.

Dentre esses vários alunos, alguns passaram a atuar também na educação; uma em história, mesmo curso do rapper Djonga e outra em letras, minha área. De longe, fico pensando que bom seria, se pelo menos no fundo, eu tiver influenciado essas escolhas, assim como o Geraldo influenciou ou Djonga. Fico pensando se dentro do meu ex- aluno caminhoneiro, dentro do fazendeiro ou  dentro do bibliotecário ainda bate um pedacinho de mim. Se for assim, o professor pode-se considerar um imortal. Dentro de todas as profissões ou de cada sala de aula que eu tiver um aluno lecionando, vou ter um pedacinho de mim, espalhando, pelo menos um pouquinho, o amor que um dia eu dei para eles.

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