EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Tenso, denso e intenso

Publicado em 02/03/2023 às 06:00.

Marcelo Batista*

Simone de Beauvoir afirma que não se nasce mulher, torna-se mulher. No caso do professor, creio que o processo é o contrário. Nascemos com a capacidade e o desejo de estar em sala de aula. A grande questão é o momento em que se dá o clique de que devemos, de fato, estar nesse lado do tablado.

Meu clique não demorou tanto. Aos 15 anos, na primeira série do ensino médio, tive um professor que, de alguma forma, foi para mim inspirador. Eu estudava em uma escola católica tradicional e ele, de certa forma, quebrava esses padrões. Cabeludo, beatlemaníaco e conhecedor de metal, logo de cara me encantei pela didática desse profissional, que me mostrava que, de alguma forma, se eu quisesse ser professor não precisava, necessariamente, me enquadrar no modelo mais tradicional e careta dos professores que tinha até então.

Desde então fiquei com a pulga da educação atrás da orelha. Na época, ser um professor inspirador era muito mais fácil: bastava ter uma boa aula, manter a disciplina e o conteúdo em dia, dentro dos padrões burocráticos da instituição, e romper um pouco com os padrões da época. 

Não preciso nem dizer que optei pela sala de aula, onde estou há quase 20 anos. Mas hoje a coisa mudou. O professor de sucesso precisa ter uma boa didática: é o básico. É desejável também que se tenha um bom currículo. Além da graduação é esperado que tenha alguma pós-graduação, mestrado ou doutorado. E tem que manter o conteúdo em dia, claro! Se atrasar a matéria em uma escola de rede particular e não der conta de dar toda a matéria, é demissão na certa. Além disso é importante ser um bom psicólogo. Com a grande ausência familiar e a carência de muitos alunos, é importante saber escutar. Tem que saber também calibrar a prova: nem tão fácil nem tão difícil, nem carrasco nem bonzinho…

É importante também ser ativo nas redes sociais. Um Instagram agitado com conteúdos gratuitos é o básico. Um TikTok também é muito bem-vindo e é a rede da moda. Se puder aprender uma dancinha do Xurrasco, o TikToker do momento, melhor. Um canal no YouTube também não é uma má ideia. Gerar conteúdo gratuito é importante. Mas pode gerar conteúdo pago também: vender cursos na internet é uma ótima jogada. É a pejotização da educação, o professor empresário 2.0.
Se a natureza ajudar, seja bonito. Se não ajudar, fique bonito. Se não estiver fácil ficar bonito, seja estiloso. Fique atento às roupas e modas do momento. Vista-se, pareça e apareça. Dependendo, dá ainda para tentar ser influenciador fitness, colunista… se der tempo dá até para dar aula e influenciar algum aluno para, no futuro, entrar na profissão mais tensa, densa e intensa que conheço.

* Do canal “Aprendi com o Papai”, no YouTube

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