Alexandre ConradoAlexandre Conrado é consultor, hoteleiro, mecânico de aviões e entusiasta da aviação

Jacaré holandês

Publicado em 23/02/2022 às 06:00.

É comum na aviação mecânicos e pilotos apelidarem as máquinas que fazem parte da sua rotina profissional. Com um nariz pontudo e destacado, o Fokker 27 acabou ganhando o apelido de Jacaré. Seu irmão, o Fokker 50, não teve destino diferente. O excelente avião holandês voou no Brasil de 1992 até 2008 e deixou saudades em passageiros, tripulantes, mecânicos e profissionais do segmento.

A Fokker já tinha inserido no mercado brasileiro o Fokker 27 na década de 80 quando o comandante Rolim, da TAM, lutou heroicamente para que a sua empresa pudesse introduzir o aparelho de 44 assentos no mercado nacional. Em 1986 foi lançado o Fokker 50, sucessor do Fokker 27, com novos motores, novas hélices, nova tecnologia embarcada. Então, pegou um desses exemplares no fim de 1991 e trouxe ao Brasil para demonstração a potenciais clientes. Começou bem errado: a aeronave chegou ao Brasil nas cores da TAM!

A gafe, que levou à resistência de algumas empresas a experimentar o avião, não foi tão grande quanto o encantamento promovido pelo turbo hélice holandês. Assim, a Nordeste Linhas Aéreas, então controlada pelo Grupo Coelho, arrendou o avião demonstrado e o pintou nas suas cores (ou falta delas) para o verão de 1992. A aeronave foi aplicada na rota Salvador – São Paulo com escalas em Ilhéus, Porto Seguro e Rio de Janeiro.

A Nordeste, na época, estava em uma fase tão azarada que foi o verão mais chuvoso da história da Bahia, levando a aeronave a ser realocada na rota São Paulo – Belo Horizonte – Montes Claros. Somado a isso, a encomenda de três Fokker 50 não chegou a um entendimento financeiro, e o avião foi devolvido à Fokker, que o direcionou à Rio-Sul, subsidiária da Varig que o matriculou como PT-SLK e utilizou entre 1992 e 1999 dez aviões do tipo. A própria Rio-Sul compraria a Nordeste em janeiro de 1995, direcionando duas unidades novinhas para a empresa baiana, que ainda absorveu quatro unidades da Rio-Sul entre 1999 e 2002. A TAM também usou o avião, inclusive aplicando-o na rota Belo Horizonte – Guarapari!

O avião holandês ainda seria utilizado pela OceanAir, que adotou cinco aeronaves do tipo entre 2003 e 2008, inclusive no mercado mineiro, operando a aeronave a partir de São Paulo para as cidades de Ipatinga, Confins e Montes Claros, seguindo desta para Vitória da Conquista e Salvador. Em maio de 2008, a empresa carioca estava em dificuldades operacionais e retirou os Fokker 50, dando fim à história desse avião querido e agradável. Tive a oportunidade de trabalhar com o mesmo entre 2005 e 2008 e digo: saudades do Jacaré.

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