A engenharia na perspectiva da sustentabilidade

Publicado em 24/12/2024 às 06:00.

Marília Carvalho de Melo*


O conceito de sustentabilidade, amplamente difundido no mundo moderno, tem como seu fundamento o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, a inclusão social e a preservação ambiental. Especialmente no que se refere à relação preservação ambiental e desenvolvimento econômico, o ponto de equilíbrio está na aplicação do conhecimento técnico e desenvolvimento de novas tecnologias que proporcionem a produção com menos uso de recursos naturais e menores impactos no meio ambiente. Assim, profissões da área tecnológica, como a engenharia, desempenham um papel fundamental na promoção da sustentabilidade lastreada pela aplicação da técnica adequada. 

Algumas áreas são exemplos claros da essencialidade da retomada de uma forte influência técnica na área ambiental. Segundo recente estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, em 1970 a emissão de CO2 no Brasil era 200 milhões de toneladas de CO2 equivalente (GWP- AR6). Já em 2022, esse número saltou para 2,3 bilhões de toneladas, refletindo o impacto crescente das atividades humanas no clima.

Esse aumento é parcialmente explicado pelo setor de energia elétrica, cujas emissões cresceram 291% entre 1970 e 2022. Isto é consequência de um cenário de mudança nas características da matriz elétrica brasileira. Entre 1970 e 1994, 97% da matriz elétrica brasileira era renovável. Entre 1995 e 2022, essa participação das fontes renováveis reduziu para 89%. 

O aumento da disponibilidade energética é requisito para o desenvolvimento econômico do país, por isso a demanda é crescente. Em que pese o esforço do Brasil em ampliar novas fontes renováveis, como solar, eólica e biomassa, um desafio do setor elétrico brasileiro é a intermitência, pois a energia deve ser garantida de forma contínua. Por isso, com a queda expressiva no percentual de utilização das hidrelétricas de 96% para 64% (1994 a 2022), baseada em discurso de impacto ambiental, e pela incapacidade de garantia de energia firme pelas outras fontes renováveis, o Brasil cresceu a participação na sua matriz elétrica de fontes não renováveis, especialmente termelétricas a carvão mineral e gás natural. De 1995 a 2022, houve um aumento de 600% nas fontes não renováveis e 129% nas renováveis. 

Entre 1970 e 2022, as fontes renováveis foram responsáveis por 87% da produção de energia elétrica no Brasil e por 32% das emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE, considerando o ciclo de vida. Já as termelétricas de fontes não renováveis geraram 13% da energia e 68% das emissões de GEE, considerando o ciclo de vida, no mesmo período. Essa constatação reforça a necessidade de reflexões técnicas acerca das questões ambientais.

Qual o maior impacto, barramentos para geração de energia de base hidráulica ou emissão de CO2 decorrente de termoelétrica de fontes não renováveis? Isso é plenamente possível de se mensurar tecnicamente para que as escolhas possam ser feitas pela sociedade com base técnica consistente. Outra questão que se apresenta: como o conhecimento da engenharia da década de 70 até o momento permitiu reduzir os impactos ambientais das hidrelétricas?

As escolhas para a promoção da sustentabilidade, especialmente no pilar ambiental, devem se basear em requisitos técnicos. Isso se aplica, desde a mensuração do impacto, com métricas técnicas, até o estabelecimento de medidas de controle aos impactos gerados, com escolhas tecnológicas. Só assim, daremos clareza à sociedade para uma escolha do caminho a seguir e a sua consequência frente a constante busca do equilíbrio do tripé da sustentabilidade. 

* Professora licenciada das Faculdades Kennedy,  secretária do Meio Ambiente de Minas Gerais, engenheira Civil, mestre em saneamento, meio ambiente e recursos hídricos e doutora em recursos hídricos

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