Andressa Nathalie Nunes Magalhães*
Andressa da Silva Formigoni**
Isabella Hoske Gruppioni Cortes***
De acordo com estudo divulgado pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, a carne suína é o tipo de carne mais popular do mundo. Por ser repleta de proteínas, vitaminas e minerais, pode ser uma excelente opção para quem quer seguir uma dieta saudável. Rica em proteínas e com quantidades variáveis de gordura, uma porção de 100 gramas de carne de porco como o lombo fornece, em média: calorias: 176 kcal; proteínas: 22,6 gramas; gorduras: 8,8 gramas. Assim, como toda carne, a suína é composta principalmente de proteínas e contém todos os nove aminoácidos essenciais necessários para o crescimento e a manutenção do seu corpo.
Diante disso, é uma das fontes alimentares mais completas de proteínas que existem. É ainda a proteína animal mais produzida e consumida no mundo, com o Brasil ocupando a 4º posição como maior produtor e exportador, e a 5º no consumo total. Por outro lado, a China é o maior país produtor e consumidor (ABIPECS, 2010). Apesar dos grandes números da produção brasileira, o consumo da carne suína ainda é baixo. Isso, devido aos preconceitos e mitos relacionados à carne suína.
Mito x Verdade
A carne suína é cercada de mitos, sendo os principais em relação ao alto nível de colesterol/gordura contidos na carne, de que a carne é perigosa à saúde humana, de que os suínos são animais sujos, criados em ambientes com higiene desfavorável e que comem de tudo. A maior parte dessas afirmações advém da população mais antiga, e, de fato, antigamente os suínos não eram criados nas condições em que são criados hoje.
A maioria da criação era ao ar livre, os animais eram alimentados com restos de comida humana, sem que houvesse grandes preocupações com a sua nutrição, doenças e forma de criação. A carne, naquele tempo, apresentava maiores índices de gordura, colesterol e espessura de toucinho, diferente do que vivemos e obtemos na suinocultura de hoje em dia, onde a atividade é altamente tecnificada, controlada, os animais são criados em instalações higiênicas, recebem uma dieta balanceada, com ingredientes de excelente qualidade e são criados com todo o controle de doenças e verminoses.
Há também a preocupação com o melhoramento genético, que participa diretamente no desempenho do animal, tanto nos índices zootécnicos, como redução da espessura de toucinho, redução do teor de colesterol e maior aporte de carne magra.
Diehl (2011) afirma que, ao contrário do que se pensa por causa de antigos mitos, a carne suína, além de não ser perigosa para a saúde, pode ser considerada uma aliada do homem no controle de uma série de enfermidades. Ainda segundo o autor, a carne suína pode auxiliar no controle da hipertensão arterial em virtude da sua característica de ter menos sódio e mais potássio em sua composição.
Além dessa característica, a carne suína possui mais gorduras “desejáveis”, chamadas insaturadas (65%), do que gorduras “indesejáveis”, conhecidas como saturadas (35%) (TROCOLLI, 2009).
O preconceito em relação ao consumo de carne suína devido à transmissão de cisticercose é outro limitante ao seu consumo. Esta afirmação não passa de uma falta de conhecimento sobre a doença, pois esta parasitose está relacionada com problemas de higiene e saúde pública, além de ser transmitida exclusivamente de homem para homem.
A teníase também é outro mito. A teníase e cisticercose são dois problemas distintos. A teníase é uma doença causada pelo parasita Taenia solium, que se hospeda nos suínos. As taenias necessitam de dois hospedeiros para completar o ciclo evolutivo. Um é o homem, considerado hospedeiro definitivo, e o outro, intermediário, onde ocorre a fase larval, que pode ser os suínos. O homem, ao ingerir carne crua ou mal passada dos suínos, que contenha larva das taenias (cisticercos), pode desenvolver a teníase ou solitária.
A teníase infecta o intestino delgado do homem, produzindo ovos. Esses ovos são eliminados nas fezes humanas. Já a cisticercose é uma doença causada no hospedeiro intermediário pelas larvas da taenia. Os suínos, e o próprio homem, adquirem essa doença ao comer frutas, verduras ou ao ingerir água contaminada com os ovos da taenia, posteriormente liberados nas fezes dos humanos infectados por taenia. Segundo Roppa (2006), como os suínos se contaminam através da ingestão de fezes humanas ou de verduras contaminadas, no caso da suinocultura moderna, onde os suínos são criados confinados, a possibilidade de transmissão ficou praticamente impossível.
Tendo em vista essas informações, pode-se concluir que o suíno não causa cisticercose ao homem e sim o contrário. O homem adquire cisticercose ao ingerir frutas, verduras ou água contaminadas com fezes de pessoas portadoras de taenia. Roppa (2006) afirma que o homem adquire a taenia ao ingerir carne mal cozida de suínos com cisticercose, contudo, a hipótese de se adquirir cisticercose com o consumo de carne suína é nula. Diante do exposto acima, a carne suína inspecionada de animal criado regularmente e sadio pode ser consumida sem preconceitos pela população.
* Professora das Disciplinas Suinocultura e Doenças de Suínos do curso de Medicina Veterinária das Faculdades Kennedy; Doutora.
** Professora da Disciplina de Suinocultura da Universidade Federal Fluminense;Doutora
*** Coordenadora e Professora das Disciplina de Bovinocultura de Leite Curso de Medicina Veterinária das Faculdades Kennedy; Doutora.