O uso da Inteligência Artificial no Ensino Superior e o problema da adequação

Publicado em 24/02/2024 às 06:00.

João Salvador dos Reis Neto*

O ensino superior tem testemunhado uma evolução significativa nas últimas décadas. As demandas por habilidades especializadas, a globalização e as mudanças tecnológicas transformaram a paisagem educacional. Nesse contexto, a Inteligência Artificial emerge como uma ferramenta potencialmente transformadora. Sistemas de IA podem oferecer personalização, automação e análises preditivas, redefinindo a experiência de aprendizado e ensino. Mas, claro, não se pode deixar de observar que o desconhecido causa medo. Vamos entender, então, o desconhecido, e abraçar o inevitável. 

A incorporação da IA apresenta uma série de impactos multidimensionais. Em primeiro lugar, a IA pode oferecer personalização escalável, adaptando-se às necessidades individuais dos alunos. Além disso, pode automatizar tarefas administrativas e oferecer feedback instantâneo, otimizando o tempo dos professores e alunos. No entanto, esses benefícios não vêm sem desafios e problemas.

Um dos principais desafios enfrentados pelas IES é a integração eficaz da IA em seus currículos e processos educacionais, que requer investimentos significativos em infraestrutura tecnológica, treinamento de pessoal e desenvolvimento de conteúdo adequado. Além disso, questões éticas e de privacidade surgem em relação à coleta e uso de dados dos alunos.

Um dos problemas mais prementes é o da adequação. Quanto a curricular, integrar efetivamente a IA no currículo existente sem comprometer a qualidade e a integridade acadêmica? Muitas disciplinas e programas de estudo ainda não estão alinhados com as demandas e oportunidades da IA, o que pode criar uma lacuna entre as habilidades dos alunos e as necessidades do mercado de trabalho.

Outra adequação sensível é quanto ao professor. Este sempre foi central no processo educacional. Além de transmitir conhecimento, os professores desempenham um papel vital como facilitadores de aprendizagem, mentores e modelos de comportamento. Sua presença física e emocional proporciona suporte, orientação e inspiração aos alunos ao longo de sua jornada educacional.

É notório seu papel, e a capacidade do professor de estabelecer conexões com os alunos. A empatia, a compreensão e a habilidade de adaptação são características humanas essenciais que transcendem a mera transmissão de informações e são fundamentais para criar um ambiente de aprendizagem seguro, inclusivo e inspirador.

De fato, a crescente presença da IA na educação levanta questões importantes sobre como o papel do professor está sendo redefinido e recalibrado. Embora a IA possa oferecer uma série de benefícios e oportunidades, também pode ameaçar sua autonomia e a identidade profissional. 

Mas a possibilidade de substituição dos professores ou desvalorização de suas habilidades e conhecimentos não deve ser vista como uma ameaça, mas sim como um incentivo. Professores devem acompanhar a evolução tecnológica e se transformarem em tutores de conteúdo, evidenciando sua importância no processo educacional. Algo é certo: sempre será necessário o feeling, ou coração humano.

Ao abraçar a inovação, as instituições podem criar ambientes de aprendizado mais dinâmicos, inclusivos e eficazes. A colaboração entre educadores, pesquisadores e profissionais de tecnologia é fundamental para explorar todo o potencial da IA na educação. Ao enfrentar esses desafios e o problema da adequação, com resiliência, as IES podem se posicionar na vanguarda da educação atual.

*João Salvador dos Reis Neto.  Pós-Dr., Dr., Ms. Coord. das Faculdade Kennedy e Promove de BH. Prof. Adv.

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