Gilvan Araújo*
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), responsável por programas como o Enem, Fies, Sisu e Prouni, no último semestre do ano passado 58% dos alunos de licenciatura desistiram do curso antes da formatura. Um reflexo da situação em todo país, onde vagas para esses cursos – especialmente para os de física, matemática e química – estão cada vez mais ociosas.
Os dados do Inep mostram que 32,4% das cadeiras das universidades privadas e 26,4% das vagas para os cursos de licenciatura das instituições de ensino superior públicas estão vazias. Se o panorama continuar como está, daqui a 15 anos não haverá professores para atuar na educação básica.
Especialistas em Educação apontam que os baixos salários, salas de aulas lotadas, má capacitação e carga horária elevada são os principais motivos para a falta de interesse pela carreira acadêmica. Além disso, mais de 80% dos alunos de cursos de licenciatura de universidades públicas estão matriculados na Educação à Distância (EaD). O mesmo acontece com 94% dos estudantes matriculados nas instituições privadas, o que causa mais desmotivação dos professores.
É claro que todos esses dados precisam ser mais bem analisados, inclusive para entendermos outras variáveis, como o uso da tecnologia – especialmente dentro das salas de aulas – a movimentação do mercado que valoriza profissões ligadas a TI e a falta de estruturas das escolas para capacitação e reciclagem de professores.
Enquanto a solução parece estar no uso de tecnologias cada vez mais avançadas para dar conta dessa relação de ensino-aprendizagem, outros países já estão pensando o caminho de volta. A Finlândia, por exemplo, um dos países mais evoluídos em educação, está tirando o computador e os celulares das salas de aulas e os alunos estão voltando a escrever a caneta e a fazer contas sem o uso de calculadoras. A decisão foi tomada depois que os educadores constataram que os estudantes estavam perdendo atributos cognitivos, o que provocava uma falta de diversidade intelectual, ou seja, todos estavam pensando mais ou menos da mesma forma e no mesmo nível (abaixo do esperado).
Difícil cravar uma solução para a retomada da valorização da educação, mas uma resposta é fácil: qualquer que seja o caminho, ele passa pela valorização dos professores, afinal nem o Google, Instagram ou X (ex-Twitter) são capazes de lidar com a complexidade humana, especialmente na formação ética de nossos cidadãos.
* Gilvan Araújo é doutor em Comunicação Social, jornalista, publicitário, sociólogo e professor do Centro Universitário Promove-BH.