Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Bolsonaro não consegue conter as arruaças que sua militância faz nas rodovias

Publicado em 03/11/2022 às 10:57.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, esperou 44 horas para se dirigir à Nação e, assim mesmo, não conseguiu acalmar a sua militância, que mantém desde a noite de domingo dezenas de quilômetros de rodovias com interrupção. E com promessa de novas manifestações nos próximos dias. É o caos. Remédios não chegam aonde deveriam chegar, hospitais começam a sofrer com falta de oxigênio, enfim, o silêncio de Jair Bolsonaro na verdade provocou toda essa taberna.

Pior é que na fala dele, na tarde de terça-feira, não houve sequer a cortesia de citar o nome de quem o derrotou, Luiz Inácio Lula da Silva, com o um problema maior: é a primeira vez que um presidente da República, no exercício do cargo, não consegue a reeleição. É o que se chama na linguagem popular: por cima da queda, coice.

No seu pronunciamento, 44 horas depois de ser derrotado por Lula, Bolsonaro disse que “as manifestações pacíficas serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”. 

Parece que a militância bolsonarista não entendeu o recado, sutil, de seu chefe, e continuou o fechamento de estradas, a tal ponto que os governos de Minas, Rio de Janeiro e São Paulo, resolveram colocar as tropas nas ruas para tentar o desbloqueio das rodovias. Assim mesmo, a ação dos governadores resolveu muito pouco e o que é pior, além de desobedecer ao chefe, no caso Bolsonaro, os bloqueios continuaram. 

Não menos grave é que o presidente da República acabou contestando o resultado das urnas, a despeito de ter sido votado por 58 milhões de brasileiros.

Na verdade, esse 58 milhões de eleitores não são de propriedade exclusiva de Bolsonaro. Ali estão insatisfeitos com o PT, os anti-lulistas, porque os há, de forma que ao tentar assumir a liderança de 58 milhões de eleitores o presidente extrapola a sua liderança, ainda que seja um número reconhecidamente respeitável – se todos esses eleitores fossem dele. De qualquer forma, Bolsonaro tem razão ao dizer que a direita passou a existir de fato no Brasil. É preciso ver, no entanto, até onde vai essa direita, a começar pelo fato de que uma boa conversa com o centrão pode desfazer uma boa parte dessa decantada direita.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, deve começar a conversar com essa direita, não necessariamente com a direita raivosa, porque essa não tem jeito. Mas há sempre alguém na direita com que o diálogo é possível. 

Do pronunciamento da última terça sobrou Ciro Nogueira, que deve iniciar com o vice-presidente Geraldo Alckmin as negociações para o chamado gabinete de transição. Depois de fazer seu curto pronunciamento, de pouco mais de dois minutos, Bolsonaro foi ao Supremo Tribunal Federal e lá, segundo o ministro Edson Fachin, o presidente que não conseguiu se reeleger teria reconhecido a derrota nas urnas e teria dito: “Acabou”. 

O receio agora, no entanto, é de que Bolsonaro continue estimulando o fechamento de rodovias e que os governadores não tenham autoridade suficiente para conter os arruaceiros. 

  

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