Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Bolsonaro não foi bem nem na Inglaterra nem nas Nações Unidas – na City foi até pior

Publicado em 22/09/2022 às 06:00.

Não foi das mais felizes a ida do presidente Jair Bolsonaro ao sepultamento da rainha Elizabeth II nesta semana. Menos ainda sua ida à Assembleia-Geral das Nações Unidas, onde, por uma tradição inaugurada por Oswaldo Aranha, o presidente brasileiro é sempre o primeiro a falar, abrindo as sessões, sendo seguido pelo presidente dos Estados Unidos.

No primeiro caso, o presidente brasileiro se deu mal porque simplesmente não respeitou o silêncio sepulcral que caiu sobre a Inglaterra no momento em que o corpo da soberana passava por uma das avenidas da city. E os eufóricos admiradores do presidente Bolsonaro foram chamados à atenção pelo londrino Cris Harvey, que chamou a atenção dos bolsonaristas dizendo-lhes que eles desrespeitavam o Brasil ao tumultuarem a passagem do cortejo fúnebre – fato que não passou despercebido pelo “The Independent”, que passou uma descompostura nos brasileiros ao dizer que eles faziam um comício político enquanto desfilava o corpo de Elizabeth II.

O Tribunal Superior Eleitoral, aqui no Brasil, não deixou por menos. A corte proibiu que o presidente Jair Bolsonaro usasse trechos de seu comício na propaganda eleitoral. Era tudo o que Bolsonaro queria, até porque foi à Inglaterra para esse fim. O que de resto não impediu que as fake news com trechos do discurso de Bolsonaro pululassem nas redes sociais aqui no Brasil.

Melhor fez Getúlio Vargas que, sob a inspiração do embaixador Assis Chateaubriand, creditado em Londres, desse à rainha um completo estojo de águas-marinhas, a pedra que a rainha usou por diversas vezes e nem sempre por ocasião em que estavam brasileiros. 

Aliás, Boris Casoy dizia que é uma bobagem alguém substituir o presidente da República quando ele viaja, numa referência ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, que substituiu o presidente Bolsonaro numa hora em que o vice Hamilton Mourão viajou para um país vizinho e o presidente da Câmara, Arthur Lira, também acompanhou Bolsonaro aos Estados Unidos, todos para que não ficassem inelegíveis. 

Ora, com os meios de comunicação hoje existentes, de qualquer lugar o presidente da República se comunica com quem quiser aqui no Brasil, o que, na versão de Casoy, isso só seria possível quando as viagens eram feitas de navio – e olhe lá!

De Londres, acompanhado do intragável Silas Malafaia, o presidente foi aos Estados Unidos para falar à Assembleia-Geral da ONU. E o desastre não foi menor. Bolsonaro teve que sair num carro do serviço secreto, esqueceu a mulher em casa – ela que estava de fato a rigor num costume preto em Londres –, houve uma trapalhada entre os diplomatas brasileiros de sorte que ao discursar na ONU o presidente acabou falando para seu público aqui no Brasil, quando poderia ter feito, como tantos outros que o precederam, um discurso de estadista. 

Ao contrário, falou para a sua “bolha” que, como se esperava, usou as redes sociais para dizer que por aqui está tudo bem. Mas talvez a gafe maior do presidente Bolsonaro tenha sido em Londres, quando inopinadamente pôs as mãos sobre o braço do rei Charles III, sob riso de si mesmo, como se desse uma gargalhada, num momento de silêncio absoluto em toda a Inglaterra. Em suma, não foi boa nem a ida a Londres nem o discurso na Assembleia-Geral da ONU. 

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