Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Bolsonaro tenta pegar carona nos factoides de Roberto Jefferson e demissão de um funcionário do TSE

Publicado em 27/10/2022 às 06:00.

Menos de oito dias após o factoide criado pelo ex-deputado Roberto Jefferson, no interior do Estado do Rio, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta pegar carona num outro factoide, agora envolvendo um servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Gomes Machado, que não se furtou a ir à Polícia Federal para denunciar o que ele disse tratar-se de uma ação de legítima defesa, até porque poderia ser perseguido.

Ocorre que fatos novos vieram à tona nas últimas horas. Um deles é o de que o presidente Jair Bolsonaro, em dificuldades no Sudeste e sobretudo em Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema parece esconder-se de tudo e de todos, até para não ser identificado como um bolsonarista, mas, como dito, fatos novos vêm se somando nas últimas horas e um desses fatos revela que a diretora da rádio do grupo JM Online, Lídia Prata, uma das pessoas que denunciaram a possível sonegação de divulgação da campanha do presidente Bolsonaro é uma notória bolsonarista que postou fotos no Instagram em companhia de Michelle Bolsonaro. Machado, que foi exonerado de suas funções, teria contado à Polícia Federal que recebera um e-mail de Maria Lídia dizendo que sua emissora não estava recebendo o material de Bolsonaro para divulgação em sua rádio entre os dias 7 e 10 de outubro, num total de 100 inserções.

Porém, em depoimento à CNN, Machado disse que “estão tentando criar uma cortina de fumaça sobre a exoneração” e afirmou que, “em tese, eu não tenho nada a ver com a fiscalização. O meu trabalho é fazer com que as rádios tenham o conteúdo. Eu tinha feito todo o meu trabalho e achei que estava tranquilo”.

E o próprio TSE diz, em seu site oficial, que não é função do Tribunal distribuir o material a ser veiculado no horário gratuito. As emissoras de rádio e televisão devem se organizar para ter acesso às mídias e divulgá-las de acordo com as regras vigentes. No entanto a emissora de Lídia Prata, a Rádio JM Online, diz que não recebeu o material de Bolsonaro no período citado, cabendo aos partidos encaminhar o conteúdo e às emissoras buscá-lo junto ao pool.

Mas, ontem, andando por Governador Valadares e Teófilo Otoni, o presidente Jair Bolsonaro fez questão de afirmar que “isso é coisa do TSE e do PT”, e que os dois deveriam explicar o imbróglio, na tentativa óbvia de criar uma relação de cumplicidade entre o TSE e o PT, como se os dois tivessem alguma coisa a ver com a outra. 

Primeiro, que este é um problema do TSE, que já exonerou o funcionário, outra coisa é o PT que, pelo menos por enquanto, não tem nada a ver com a exoneração de Machado, embora o presidente prefira chamar o fato de “manipulação eleitoral”. E tentar relacionar o TSE com o Partido dos Trabalhadores, quando não há nenhum ponto de contato entre eles.

Mas num outro front, a ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, não apenas se pronunciou nessa quarta-feira, durante sessão do STF, como recebeu a solidariedade em forte discurso do decano da corte, ministro Gilmar Mendes, que rebateu as atitudes do ex-deputado Roberto Jefferson e criticou a atuação de autoridades em proteger a democracia, no que ele chamou de “rapinagem institucional”, com o objetivo de enfraquecer o Supremo Tribunal Federal. 

Antes, a presidente do STF, Rosa Weber, defendeu Carmen Lúcia, mineira de Montes Claros – ou de Espinosa, onde nasceu, na divisa de Minas com a Bahia, contra os ataques misóginos de Roberto Jefferson.

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