Ao ser entrevistado pelo SBT – Bolsonaro não fala com a Globo, mas investe no veículo de comunicação concorrente – o presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao insinuar, sem nenhuma prova do que diz, que, “pelas andanças pelo Brasil, em especial nos últimos dois meses, se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE”.
A fala de Bolsonaro, como de hábito, questiona a lisura do processo eleitoral mesmo após a Justiça Eleitoral ceder à pressão das Forças Armadas e concordar em fazer um teste de integridade das urnas com participação de eleitores no dia da votação.
O que o presidente da República não admite, na verdade, é que as últimas pesquisas eleitorais, dentre elas a do Paraná Pesquisa, mostram que ele está atrás do ex-presidente Lula nas intenções de voto para o primeiro ou para o segundo turnos.
O presidente Bolsonaro pode não acreditar nas pesquisas, é um direito dele, como é de seus filhos. Até porque, na verdade, os institutos erram, sobretudo quando a pesquisa é feita pelo telefone, sem o olho no olho próprio das pesquisas cara a cara. Mas o que Bolsonaro não pode desconhecer é que o Data Povo, como ele chama as aglomerações que o cercam, como domingo nas exéquias da Rainha Elizabeth II, é que os seus filhos movimentam a militância para onde quer que ele vá.
Basta anunciar uma motociata para que sua militância acorra ao local e dá a impressão de que são milhares, quando na verdade não são tantos assim, embora seja respeitável o número de motoqueiros que acompanham o presidente, muitos das polícias militares. Aliás, tanto no comício da semana passada em Montes Claros, como em Curitiba, onde Lula também falou, havia muita gente. O que também coloca em xeque a afirmação de Bolsonaro ao SBT.
Aliás, ele admitiu que o país “está bem dividido, né, muito mais favorável a mim – com o que não concordam as pesquisas – mas eu digo que se não tiver 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE, tendo em vista obviamente o Data Povo que você mede pela quantidade de pessoas que me acompanham”.
Ainda que na semana passada ele tenha admitido que, se perder, passa a faixa ao vitorioso e se recolhe à aposentadoria.
O que o presidente parece desconhecer é que o Tribunal de Contas da União também vai acompanhar a apuração – o que não lhe seria devido – conferindo a integridade dos boletins impressos e emitidos por uma amostra de 4.161 urnas após a votação em 2 de outubro.
O boletim de urna funciona como uma prova, uma espécie de extrato com todos os votos que foram digitados no equipamento eletrônico. Ao final da votação, ele é impresso pela Justiça Eleitoral e disponibilizado para conferência dos partidos, candidatos e eleitores, afixado na porta da sessão eleitoral.
Ou seja, não há como haver divergência. Mas Bolsonaro insiste em jogar dúvidas quanto à lisura do TSE. Bolsonaro não admite, por fim, que pelo menos 35 países usam a urna eletrônica, segundo dados do Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral, sediado em Estocolmo (Suécia), em que a urna brasileira é tida como modelo e referência, pois é capaz de fazer a captação, o armazenamento e a apuração de votos, o que garante segurança, agilidade e transparência aos resultados das eleições – e em tempo recorde.
Mas Bolsonaro nem assim parece acreditar no resultado das urnas eletrônicas, daí a insinuação de que “alguma coisa aconteceu no TSE”. De Londres Bolsonaro vai a Nova York.