Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

O primeiro comício de Lula em BH teve bandeira nacional e beijo num menino cadeirante

Publicado em 20/08/2022 às 06:00.

Quem esteve no comício de quinta-feira à noite do ex-presidente Lula (PT), gostou. Claro, por lá só havia lulista. Mas gostaram também do ex-prefeito Alexandre Kalil, a despeito da ducha de água fria que Kalil recebeu à noite do Datafolha, que apresentou o seu adversário, o governador Romeu Zema (Novo), com o dobro das intenções de voto de Alexandre Kalil.

Mas ainda assim, o ex-prefeito foi à Praça da Estação, na verdade Praça Rui Barbosa, e disse o que precisava dizer: que sua candidatura está colada na do ex-presidente Lula e que precisa dos votos dos mineiros para ajudar Luis Inácio Lula da Silva a mudar o país. E na presença presumível de 100 mil pessoas, que emprestaram à Praça da Estação, digo, Rui Barbosa, um colorido diferente, a começar por uma enorme bandeira do Brasil que passava por cima da cabeça das pessoas, tremulando.

Mas o deboche do dia ficou por conta do presidente Jair Bolsonaro que foi achincalhado por um youtuber, atacado por palavras fortes, uma delas “tchutchuca do centrão” – em função de o presidente ter hoje o apoio desse grupo suprapartidário fundado pelo ex-deputado Eduardo Cunha, aliás, novamente excluído do processo eleitoral em curso – desavença em que acabou com o presidente pegando na gola da camisa do rapaz para lhe tomar o telefone, enquanto um outro segurança o derrubava na grama, de forma que esse entrevero certamente não estava nos planos do presidente da República e foi um vexame. 

Ainda que logo depois, serenados os ânimos, Bolsonaro e o youtuber acabaram conversando calmamente e de forma civilizada. O fato, porém, não passou em branco das emissoras de televisão e dos sites noticiosos que deitaram e rolaram sobre o episódio, sobretudo com a tentativa do presidente de tomar o telefone do rapaz, ao que se sabe um dos frequentadores do cercadinho.

Mas chamou a atenção também a divulgação do Datafolha que não deixou de registrar uma pequena queda na intenção de votos do ex-presidente Lula, que cravou 47% dos votos, se a eleição fosse hoje, contra 32% do presidente da República. Lula lidera entre os católicos, a maior massa de eleitores, e Bolsonaro entre os evangélicos e os mais ricos. Bolsonaro tem rejeição de 51%; e a de Lula é de 37%. A pesquisa mostra ainda que 43% reprovam o governo Bolsonaro e a sua aprovação é de 30%. 

Duas coisas chamam a atenção nessa pesquisa do Datafolha: a equipe de Lula vê os evangélicos como desafio para o ex-presidente vencer no primeiro turno, mas ao mesmo tempo a equipe que cuida da reeleição do presidente está preocupada com a reação lenta de Bolsonaro nas pesquisas. A essa altura já era para ele estar no empate técnico com Lula e isso não vem acontecendo.

De outro lado, não tem sido boa a performance de Kalil na disputa pelo governo de Minas. Na última pesquisa do Ipec, Kalil marcou 22 pontos percentuais enquanto o governador Romeu Zema cravou 40 pontos, o que lhe pode garantir a vitória no primeiro turno. É verdade que a apoteótica recepção ao ex-presidente Lula na Praça da Estação não deixa de alavancar a posição de Alexandre Kalil na intenção de votos dos mineiros. Ocorre que Kalil está bem tanto no município de Belo Horizonte como na Região Metropolitana da capital, mas não tem a mesma atuação no interior do Estado, onde estão 60% dos votos de mineiras e mineiros. É aí que o ex-prefeito deve concentrar os seus esforços se quiser ganhar do governador Romeu Zema. Kalil sabe disso. 

Mas, no entanto, é preciso que Lula venha mais a Minas Gerais e percorra algumas regiões com Alexandre Kalil, até porque Lula pode ganhar de Bolsonaro em Minas, onde ele marca 47% contra 32% de Bolsonaro, mas não está tão bem assim no Sudeste (São Paulo, Minas e Rio de Janeiro), tendo que melhorar a sua posição nesse ranking – neste caso Minas parece mais receptivo para Lula, ainda que ele não possa deixar São Paulo e Rio soltos. 

Ou seja, se Kalil tem que andar muito, Lula precisa andar muito mais, sobretudo se quiser derrotar o seu adversário no primeiro turno, como ainda indicam as intenções de voto no ex-presidente. E fica a lição: quem ganha as eleições em Minas Gerais, salvo o ex-presidente Vargas, em 1950, ganha também as eleições presidenciais.

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