A pesquisa da Genial/Quaest divulgada ontem definitivamente não foi boa para o presidente Jair Bolsonaro e talvez por isso ele tenha ficado irritado, segundo O Globo. Nesse meio tempo, o presidente Jair Bolsonaro viajou ontem à noite para os Estados Unidos para participar do Fórum das Américas e com um pepino pela frente: o presidente Joe Biden cobra do presidente brasileiro providências sobre as queimadas na Amazônia, um prato indigesto, ainda mais agora quando desaparecem naquela região o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira.

Até a tarde desta quarta-feira não havia notícias dos dois, embora alguns sites tenham até informado sobre a prisão de um ou dois garimpeiros que atuam na região sob a complacência da Funai e com prova de ameaças aos indígenas. Aliás, foi por esse histórico que a polícia chegou a um deles, um garimpeiro com o nome de Amauri. A polícia já sabe que um barco com madeireiros seguiu o barco onde estavam o jornalista e o indigenista. O problema de Bolsonaro com Biden é outro: trata-se da devastação da Amazônia, o chamado “pulmão do mundo”.

Mas o que teria provocado a irritação do presidente Bolsonaro, na verdade, teria sido o resultado da pesquisa da Quaest em que o ex-presidente Lula abre 18 pontos à frente. Na média dos cenários pesquisados, diz Felipe Nunes, da Quaest, Lula tem 47% das intenções de voto contra 29% de Bolsonaro, enquanto Ciro patina nos 7%.

Embora o presidente Bolsonaro tenha dito essa semana que vai se eleger no primeiro turno, o que a pesquisa da Genial/Quaest mostra é o contrário: quem poderá se eleger no primeiro turno é o ex-presidente Lula. Por uma razão simples: a soma de todos os outros candidatos, segundo a Quaest, chega a apenas 41%, menos do que os 46% que Lula tem no primeiro cenário. E olha que o presidente Bolsonaro disse ontem, aumentando a carga contra o Supremo Tribunal Federal, que ele “já não estará obrigado a seguir o que decide o STF”, argumentando que “antigamente a gente cumpria o que a Justiça decidia, mas agora eu não já vou cumprir”, na talvez mais grave ameaça do chefe do Executivo ao Supremo, quando não à Justiça como um todo.

Segundo Felipe Nunes, da Quaest, não seria estranho apostar nesse favoritismo do ex-presidente Lula. “A primeira delas é comparando a rejeição dos candidatos: na disputa entre os menos piores, Lula tem a menor taxa de rejeição entre os candidatos competitivos (40%) enquanto Bolsonaro ostenta a maior rejeição, de 60%”.

Em suma, a pesquisa divulgada ontem pela Genial/Quaest de fato é muito ruim para o presidente da República. Há outros números que poderiam explicar a melhor performance do ex-presidente Lula, como a de que para 57% dos brasileiros está ficando difícil pagar as contas. Ou 63% dizem que a economia brasileira piorou no último ano, o que justificaria, por exemplo, a pressão que o Centrão vem fazendo no Congresso Nacional para reduzir os preços dos combustíveis, tidos como os vilões da pressão inflacionária junto com a guerra na Ucrânia. Bolsonaro, neste caso, precisa tirar de seu colo – e já começa a jogar sobre os governadores e prefeitos – a responsabilidade pelo problema. O que obrigaria Bolsonaro a fazer isso logo, porque aumenta o desgaste pelo aumento dos preços na bomba.

Para piorar, 62% dos entrevistados pela Genial/Quaest acreditam que o salário tinha maior poder de compra no governo do ex-presidente Lula. Como acentua Felipe Nunes, uma campanha não é feita apenas por números, daí por que a Quaest avaliou também as narrativas tanto de Bolsonaro quanto de Lula, chegando à conclusão que 52% temem a continuidade do governo Bolsonaro enquanto 35% têm medo da volta do PT. Ou seja, a pesquisa, com dois pontos para cima ou para baixo, com o entrevistado cara a cara com o entrevistador, não foi realmente boa para Bolsonaro.