Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Quantas vidas perdidas na Faixa de Gaza

Publicado em 21/10/2023 às 06:00.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem razão. Não se pode deixar que a insanidade tome conta tanto de Israel quanto da Palestina. Os dois Estados devem conviver, ainda que essa disputa dure 75 anos. Mas o que não se pode admitir é, por exemplo, como aconteceu nessa sexta-feira, que uma vila seja inteiramente arrasada por Israel. E muito menos que a mídia pro-Israel tome conta do noticiário como vem acontecendo. Pior: a disseminação de notícias falsas sobre a guerra entre Israel e o Hamas tem levado ao aumento de ódio contra judeus e palestinos ao redor do mundo. A afirmação, por sinal, é do professor David Nemer, da Universidade de Virgínia - EUA. 

No último domingo, para se ter ideia, uma criança palestina de seis anos foi assassinada a facadas por um homem de 71 anos, em Illinois, nos Estados Unidos. O pesquisador cita este e outros casos como exemplos de desinformação como uma nova arma de guerra. São as narrativas, tão ao gosto dos tempos atuais, em que a verdade é a primeira que morre, ainda que num conflito desse porte. 

“As redes sociais têm levado o campo de guerra para um espaço onde as pessoas, mesmo longe, se colocam nessa disputa polarizada”, diz David Nemer. E acrescenta: “a desinformação geralmente vem carregada de sentimentos como o medo e a raiva porque as pessoas tendem a engajar com esse tipo de conteúdo. Ou seja, tendem a acreditar e a compartilhar mais facilmente”.

Mas não é só isso. O drama, tanto para os israelenses como para os palestinos, tem sido fatal. Hasan Rabee, brasileiro de 30 anos que tentava deixar o território dominado pelo Hamas, disse que seu primo, a esposa, filhos e netos estavam num prédio atingido por ataque israelense, quinta-feira à noite. 

“Teve um bombardeio perto da casa deles e o prédio foi destruído. Não sei quantas crianças têm de morrer nessa guerra e aqui na faixa de Gaza”, disse o brasileiro que, por acaso, estava em Gaza. 

No total, o número de mortos em Gaza desde o início da guerra era de 4.137 pessoas até a manhã de sexta-feira. Os dramas são diários e cada um tem a sua própria história, pessoal ou não, para contar. E são histórias de arrepiar. Na semana passada, o governo de Israel mandou que a população, mais de dois milhões de pessoas, deixassem Gaza e rumassem para o sul, indicando que aumentaria os ataques à região que faz fronteira com o sul de Israel. 

Muitos palestinos, no entanto, relatam que não têm para onde ir, já que o acordo que está sendo costurado entre o governo egípcio e as forças de ocupação de Israel para a abertura da fronteira em que apenas estrangeiros poderão deixar a faixa de Gaza, por isso muitos deles continuaram em suas casas no norte de Gaza, como é o caso do brasileiro citado no início do comentário.

Talvez o mais cruel seja o fato de que não há alimentos para a população civil, que não têm nada a ver com o que corre em Gaza. Não há energia elétrica.

Não há alimentos nem água potável para beber, a despeito do esforço da embaixada brasileira para contornar o que ocorre na faixa de Gaza. Nessa sexta-feira, enquanto o avião presidencial cedido pelo presidente Lula aguardava a abertura da fronteira com o Egito, a expectativa era o medo causado pelos tiros de canhão, no que Lula chamou de “insanidade”, não sem propósito. 

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