Blog do LindenbergCarlos Lindenberg, jornalista, ex-comentarista da BandMinas e Rádio Itatiaia, e da Revista Exclusive. Autor do livro Quase História e co-autor do perfil do ex-governador Hélio Garcia.

Um 7 de Setembro dedicado ao candidato Jair Bolsonaro

Publicado em 08/09/2022 às 06:00.

Como se esperava, o presidente Jair Bolsonaro (PL) praticamente tomou para si os festejos do 7 de Setembro, desde as primeiras manifestações em Brasília, como em outras cidades. Milhares de pessoas foram às ruas para o que seria uma comemoração cívico-militar, mas que acabou numa apropriação indébita das outroras paradas militares. Na verdade, uma usurpação.

O ponto alto das comemorações foi a demonstração dada pelo presidente da República que, após um beijo em sua mulher, Michelle, entoou um discurso machista com um refrão “imbrochável”, repetidas vezes, o que não deve ter sido compreendido pelo presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, que estava ao seu lado, antes de ser praticamente empurrado pelo indefectível empresário Luciano Hang, que se colocou até mesmo à frente do candidato a vice de Bolsonaro, general Braga Neto. 

A fala de Bolsonaro, tanto em Brasília como em Copacabana, foi em tom eleitoreiro, o que demonstra a sua incapacidade de sair da bolha. Ainda que não se possa dizer que o candidato à reeleição movimentou milhares de pessoas à sua convocação para que todos fossem às ruas nesse 7 de Setembro, que, no entanto, apesar das críticas aos outros poderes da República, foi bem diferente do ano passado, quando chegou a citar nominalmente ministros do Supremo Tribunal Federal e ameaçou o  país com um tom alarmista de desrespeito à Constituição e até na possibilidade de um golpe. 

Ontem, ainda que com críticas veladas ao STF, Bolsonaro não ameaçou com golpes ou coisas parecidas, ainda que tenha gritado que a disputa agora é do “bem contra o mal”, refrão aliás que ele vem repetindo há algum tempo.

A certa altura, ainda na Esplanada dos Ministérios, voltou a repetir: "o conhecimento também liberta. Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse Bolsonaro.

Por fim, não satisfeito, atacou o Datafolha, cujas pesquisas – mas não só elas – mostram que o ex-presidente Lula está à frente de Bolsonaro alguns pontos, o que pode levar a disputa para uma decisão no primeiro turno. Ainda assim, o presidente destacou: "nunca vi um mar tão grande aqui com essas cores verde e amarela. Aqui não tem a mentirosa Datafolha. Aqui é nosso Datapovo".

O presidente, no mesmo diapasão, tentou capitalizar notícias recentes no campo da economia, como a redução da gasolina, o crescimento do PIB, mas não se acanhou ao dizer que seu governo combate a corrupção, desconhecendo, por exemplo, que já teve quatro ministros da Educação – e o último, Milton Ribeiro foi preso – além da suspeita de fraudes em negócios da Codevasf e o nebuloso caso dos negócios mobiliários que, desde 1990, sua família, o presidente, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, 51 dos quais adquiridos total ou parcialmente com dinheiro vivo. 

Em suma, o dia de ontem, ainda que reconhecendo que multidões saíram às ruas, foi uma apropriação indébita das antigas e garbosas paradas militares.

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