Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

'A Argentina jamais permitiria um empate a menos de 4 minutos do término'

Publicado em 20/12/2022 às 06:00.

A Copa do Mundo terminou e a Argentina, com justiça, sagrou-se campeã. Uma competição recheada de jogos emocionantes, findada com, o bem provável, melhor jogo de todas as Copas. Juntamente com este encerramento, uma série de narrativas, mazela característica do futebol, imperam sobre recorrentes análises fajutas. Afinal: quem não escutou comentários, após Brasil e Croácia, de que a fria e calculista Argentina jamais permitiria um adversário empatar uma partida a menos de 4 minutos do fim? Pois bem, ela “permitiu”.

Se pesquisarmos no dicionário, o termo “narrativa” significa: “exposição de um acontecimento, real ou imaginário, por meio de palavras ou de imagens”. Acontece que no futebol estas narrativas, quase que na maioria das vezes, são construídas pelo vencedor e mudam drasticamente por uma defesa espetacular de um goleiro no final, impedindo uma virada histórica. Se a bola entra, a narrativa seria outra. E isto, caro leitor, não pode ser considerado análise séria. Como costuma dizer meu amigo e gestor esportivo Felipe Ximenes, “situações complexas não permitem respostas simples”.

Agora a narrativa nos debates esportivos se voltam, novamente, ao pseudoconfronto entre a escola de formação baseada na pedagogia de rua, ainda característica do futebol sulamericano, e a prática deliberada europeia, entre um jogo mais “anárquico” e um jogo posicional. Tudo isto da forma mais superficial possível, demonstrando o atraso de boa parte das pessoas que comentam futebol e, principalmente, influenciam pessoas através disso no Brasil.

Precisamos analisar o jogo sempre de forma cuidadosamente sistêmica, com todos os seus elementos inerentes. É fundamental comentar sem sermos profetas do acontecido, permitindo contextualizar toda caoticidade do jogo. Não existe maneira correta ou errada de se organizar uma equipe, assim como não existe método infalível na formação de atletas. Precisamos sim entender toda ciência envolvida no futebol, com muito estudo e dedicação.

Precisamos entender sim o trabalho sério feito pela Argentina e por outras várias seleções, incluindo o Brasil, mesmo que não levantando a taça. Buscar ideias, inovações, intercâmbio de informações e, principalmente, se abrir ao conhecimento. Para isto, a curiosidade em aprender é fundamental. Abrir a mente, se colocar na posição de aprendiz e como diz Pep Guardiola, “roubar ideias”, por mais distintas que sejam, é o caminho.

Faço um apelo: fujam de narrativas! Vamos nos unir na construção de conteúdos fidedignos e com credibilidade, que não sejam absurdamente variáveis com o simples acaso de uma bola desviada no zagueiro. Só assim poderemos avançar na organização e evolução do futebol brasileiro, sem andarmos em círculos ou como um engraçado cachorrinho que corre atrás do próprio rabo.

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