Já escrevi em colunas anteriores sobre a natureza aleatória indissociável do futebol, caracterizada pela sua complexidade. Isso faz com que, diferentemente de outros esportes coletivos, o futebol seja o que mais chance o pior (não favorito) tem de vencer o melhor. Na Copa do Mundo, até agora, isto foi muito forte, principalmente pelas vitórias de Marrocos, Japão e Arabia Saudita frente às poderosas Bélgica, Alemanha e Argentina.
Com a globalização e o constante fluxo de informação, para além do acaso, fica muito evidente o quão todas as equipes estão melhores preparadas. A qualidade das ideias somadas às estratégias bem executadas são resultados de muitos estudos dos adversários, em busca de minimizar os pontos fortes e atacar os pontos fracos.
O futebol é um jogo essencialmente tático e não é possível explicá-lo somente pelas vertentes técnica, física e psicológica. Não existe equipe forte fisicamente se antes não for forte taticamente. Assim como também não há qualidade técnica que se sustente sem devido planeamento e modelação tática coletiva. A própria terminologia “técnica individual” já evoluiu para “tática individual”, pois a técnica deve estar justamente a serviço da tática. Por fim, uma equipe mentalmente forte só poderá assim ser se estiver taticamente ajustada, pois é a tática que vai orientar a cognição dos jogadores, minimizando uma das maiores fontes de cansaço e estresse: a famigerada fadiga mental.
A compreender estes três elementos, ou seja, a aleatoriedade, a vertente estratégica e essência tática do jogo, é primordial revermos o conceito de “zebra” no futebol. O improvável é mais provável do que imaginamos e os caminhos para driblar a tradição das camisas e os valores individuais de grandes craques estão cada vez mais evidentes e consolidados. Viva o futebol e viva a Copa, capazes de nos garantir uma única certeza para quem ama: muita emoção!