Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

Clubes devem saber documentar trabalhos dos treinadores

Publicado em 20/09/2022 às 06:00.

O futebol brasileiro completou na última semana 18 mudanças de treinadores no Campeonato Brasileiro. A média no país é de aproximadamente três meses no cargo, enquanto que na Inglaterra, por exemplo, este índice chega a bater um ano. Uma das razões para isso, para além da falta de critério na demissão e da correta definição de KPIs para a análise da comissão técnica, é o momento da contratação do treinador.

Pesquisas recentes mostram que não há o menor processo estabelecido por boa parte dos clubes brasileiros no momento da contratação de um treinador. Relatos de treinadores demonstram que as conversas com a esmagadora maioria dos dirigentes são supérfluas,  com conteúdo somente relacionado à proposta financeira, desconsiderando a metodologia de treino, ideia de jogo, filosofia do trabalho, entre outras questões.

A considerar a total falta de processo para contratar quem considero a principal autoridade de um departamento de futebol, o objetivo com esta coluna será abordar uma questão na qual seria um enorme luxo para os clubes brasileiros no atual cenário: documentar aquilo que deu certo. Você já parou pra pensar, por exemplo, o que o Flamengo guardou de aprendizado com Jorge Jesus? Suas metodologias, ideias, propostas de treino, como fazia a integração dos departamentos, da gestão de pessoas e processos, entre outras coisas, o que será que o Flamengo pode aproveitar como legado? Difícil resposta, mas, aparentemente, nada. De lá pra cá foram cinco treinadores muito diferentes entre si.

Acredito fielmente que um treinador competente, com uma filosofia forte e clara, é capaz de influenciar positivamente todas as camadas de administração do clube e ainda deixar um legado para perdurar por um bom tempo, mesmo depois de sua saída. Mas, para isso, é preciso que a gestão do clube saiba documentar o trabalho do treinador. Neste momento, a comissão técnica permanente do clube, os analistas fixos do clube e principalmente o diretor desportivo são peças fundamentais. Guardar devidamente aquilo que deu certo, alimentar internamente no clube e saber as utilizar na escolha dos próximos profissionais são três passos importantes.

Não estou aqui dizendo para se copiar atividades de treino. Longe disso! Até porque isto é impossível, como já ressaltou José Mourinho. Um treinador pode até copiar a atividade de outro, mas jamais será a mesma execução e acompanhamento. Estou a defender que o clube pode, sim, documentar como um todo a filosofia do treinador e a sua metodologia no plano macro. Estando em acordo com a cultura do clube, principalmente no tocante à identidade de jogo, este documento poderá servir de norte no estabelecimento do processo de contratação de treinadores para o clube, até mesmo nas categorias de formação. Isso possibilitará a minimização de erros e a não vinda de profissionais sem identificação com a forma de trabalhar da instituição.

O que será que Corinthians, Palmeiras, por exemplo, estão fazendo para salvaguardar os possíveis legados de Vitor Pereira e Abel Ferreira, respectivamente? O futebol brasileiro, definitivamente, precisa melhorar seus processos de contratação de técnicos e não somente ir na onda daquilo que os outros estão fazendo. O perfil do treinador que um clube procura deve ir muito além da nacionalidade, idade, popularidade, títulos recentes e a média salarial. 

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