Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

O futebol como política governamental

Publicado em 02/08/2022 às 09:29.

As eleições de 2022 estão chegando. Os pré-candidatos à presidência, governo, congresso e assembleia começam a divulgar suas ideias e propostas. Até agora, para o esporte, nada que me chamou a atenção. Muito menos para o futebol. Nesta coluna quero demonstrar ao leitor que o futebol deve sim ser pauta de preocupação do Estado.

Você deve estar pensando e questionando: “o futebol é uma atividade privada, de alto rendimento, não deve ser objeto de políticas públicas” ou “devemos ter enfoque em outras modalidades, pois o futebol já é o principal esporte do país”. Calma, vamos lá, ponto a ponto!

De início, é importante lembrar que a Constituição Federal de 1988 elevou o esporte como direito fundamental do cidadão, através do artigo 5º, que trata dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos. O artigo 217, por sua vez, inovou ao expressar o desporto como um dever do estado: “é dever do Estado fomentar as práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um”. Sendo assim, a própria Carta Magna brasileira já coloca o Estado como agente categórico no desenvolvimento esportivo do país.

Para além da responsabilidade jurídica apresentada, arrisco a dizer que o esporte é a pauta mais interdisciplinar de um governo, pois se conecta com saúde, educação, lazer, turismo, cultura e economia. Mas, e o futebol? Não devemos focar nos demais esportes igualmente?

Pode parecer polêmico, mas vou apresentar alguns argumentos para que o Brasil tenha o futebol como prioridade dentre as diversas modalidades. Mas, desde já reitero: o fato de achar que devemos tratar o futebol como prioridade, não exclui a grande importância que deva ser dada aos outros esportes, até mesmo os e-sports (ou jogos eletrônicos), tema que ficará para uma próxima coluna. 

O futebol continua sendo o esporte amplamente favorito dos brasileiros, com o market share de 70%. São mais de 500 milhões de buscas nas plataformas google acerca do esporte das multidões. O seu universo gera mais de 370 mil empregos, possui mais de 60 profissões envolvidas e representa 0,72% do PIB (importância econômica).

O dia a dia da população é recheado de hábitos culturais ligados ao futebol, alimentados pelas paixões clubísticas. Como afirma Pep Guardiola, “o melhor do futebol é que pessoas com problemas muito mais graves, que vivem a crise de forma brutal e enfrentam dramas particulares, por instante vibram, esquecem, festejam, graças a este jogo” (importância cultural e social).

Nesta toada, historicamente, o futebol é o esporte de maior apelo popular, onde milhares de crianças e jovens fazem a sua prática de diferentes formas: educacional, participativo ou no alto rendimento. O futebol tem uma parcela significativa na formação dos nossos jovens (importância educacional). Segundo dados da FGV, 30 milhões de brasileiros praticam futebol. 

Um outro aspecto interessante é que o futebol, por ser jogado com os pés, torna-se um dos esportes mais difíceis de serem praticados, haja vista que estes membros humanos não foram feitos para dominar qualquer coisa, muito menos um objeto esférico com certo peso. Isto faz com que o desenvolvimento motor do futebol seja especial em relação aos outros esportes (importância educacional e de saúde).

O futebol, ao contrário de outras modalidades, não exige uma biotipia específica para se praticar. No vôlei, por exemplo, os atletas são eliminados por seleção natural caso não tenham, no mínimo, 1.80 metros (salvo raras exceções). O futebol é democrático e não exige capacidades físicas máximas para se praticar, mas sim otimizadas e relativas (o detalhamento fica para outra coluna).

A China já percebeu a importância interdisciplinar do futebol no contexto social-econômico e, prova disso, é que tornou-o disciplina obrigatória nas aulas de educação física de todas as escolas do país. Segundo o Plano do Ministério da Educação chinês, o objetivo é chegar a 50 mil colégios no país com treinamento de futebol até 2025. 

Claro que a ampla prática do futebol nas escolas poderá proporcionar a descoberta e a formação de novos talentos para o alto rendimento, mas não deve ser o objetivo central. A função desenvolvedora-educacional deve coordenar todo processo, haja vista a já descrita importância psicossocial-motora do futebol. 

O Estado brasileiro deve sim ter políticas governamentais para o futebol, proporcionando capacitação aos profissionais de educação física das escolas para que saibam aplicar este processo de iniciação. 

O Estado não deve se preocupar em interferir no futebol de alto rendimento e sua organização deve sempre ser autônoma (como preconiza a Constituição Federal). Entretanto, o Estado pode e deve promover o desenvolvimento social-educacional do futebol, ofertando-os com qualidade nas escolas e alimentando a paixão cultural do brasileiro (responsabilidade social).

Um futebol forte é sinônimo de mais saúde, educação, cultura, economia e lazer! Pensem nisso, candidatos!

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por