Gestor de Futebol pela CBF Academy e pela Universidade do Futebol, pós-graduado em Direito Desportivo e Negócios no Esporte.

Transição tática: os desafios de Felipão no Atlético

Publicado em 11/07/2023 às 06:00.

O início de Felipão no Atlético Mineiro certamente não correspondeu às expectativas da torcida. A equipe ainda não conquistou vitórias e seu desempenho está significativamente abaixo do esperado, em comparação com o período em que o argentino Coudet estava à frente. No entanto, do ponto de vista técnico, isso não é surpreendente. Permita-me explicar.

Felipão e Coudet possuem perfis e ideias táticas bastante distintas. Apesar das conhecidas dificuldades de relacionamento, o Atlético de Coudet vinha mostrando evolução dentro de campo, com uma proposta de jogo praticamente automatizada entre os jogadores.

É importante ressaltar que todo treinador, ao implementar suas ideias durante os treinos, busca fazer com que elas se tornem hábitos para os jogadores. Isso significa que os jogadores devem tomar decisões e interpretar as situações do jogo de acordo com um Modelo de Jogo estabelecido pela comissão técnica. Quando um jogador de futebol toma uma decisão, seu cérebro considera previamente as opções disponíveis, comparando-as com base em marcadores somáticos, evocando lembranças, fatos e emoções, e gerando uma resposta rápida.

Ao longo dos treinos, os jogadores gradualmente fortalecem esses marcadores somáticos, que direcionam sua atenção para opções mais vantajosas dentro do Modelo de Jogo do treinador. Esse processo é o que leva à formação de hábitos, ou seja, quando o atleta consegue tomar decisões de forma eficiente, economizando energia e tempo.

A chegada de um novo treinador - e isso não se aplica apenas a Felipão - mexe com estes marcadores somáticos, tornando as decisões dos jogadores mais desafiadoras. Isso ocorre porque eles precisam se adaptar a uma nova forma de jogar, o que torna o processo cognitivo mais lento, uma vez que não podem mais contar com as experiências adquiridas com o treinador anterior. Consequentemente, as decisões são tomadas de maneira mais lenta e estão sujeitas a erros.

Além disso, temos o agravante de se tratarem de treinadores com visões bastante distintas. É como se tivéssemos que desapertar um parafuso para, em seguida, começar a apertá-lo novamente. Isso requer tempo! A torcida precisa compreender isso e ter paciência, pois nem sempre esse processo de transição pode ser acelerado, como ocorreu com Dorival Júnior no Flamengo. A exceção não pode ser vista como regra!

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